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16/08/2010 - 09h21

Manobras conjuntas entre Seul e Washington causam desconfiança no governo da China

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DA REUTERS, EM PEQUIM

A China não tem condições de impedir exercícios navais dos EUA perto das suas costas, mas essas atividades podem agravar a desconfiança de Pequim em relação a Washington, além de aumentar a pressão pelo fortalecimento militar chinês, disse na segunda-feira o contra-almirante Yang Yi, pesquisador-sênior da Universidade Nacional de Defesa chinesa.

Yang afirmou que a China também está "preocupada" com os exercícios conjuntos desta semana envolvendo EUA e Coreia do Sul. São atividades principalmente terrestres, que segundo Yang poderiam "inflamar" a vizinha Coreia do Norte e alimentar tensões regionais.

Mas a China vê uma ameaça muito mais direta nos planos do Pentágono para a realização de novos exercícios navais com a aliada Coreia do Sul, que envolveriam o envio de um porta-aviões ao mar Amarelo, entre a China e a península da Coreia.

O Pentágono não informou a data desses exercícios, que Yang afirmou que seriam provocativamente próximos ao norte da China.

"Se os Estados Unidos entrarem de fato no mar Amarelo, a China possivelmente não poderá usar a força militar para impedi-los. Isso criaria o risco de um confronto militar, e seria pouco inteligente por parte da China e dos Estados Unidos", afirmou ele na entrevista telefônica.

"Mas se os Estados Unidos insistirem em levar isso adiante, estarão jogando uma pedra no próprio pé. Eles irão prejudicar as relações de longo prazo entre China EUA."

Yang e outros oficiais de alta patente já haviam expressado sua preocupação em artigos num jornal militar.

"Como os planejadores estratégicos militares da China verão isso? Quando os Estados Unidos se preparam para usar o poderio militar para ameaçar os interesses nacionais da China, o que podemos fazer? Precisamos fortalecer nossa força militar", disse Yang.

O contra-almirante não é um porta-voz oficial dos militares, mas um influente estrategista. Ele já foi diretor do Instituto de Estudos Estratégicos, da Universidade Nacional de Defesa, que treina oficiais promissores.

Os atritos entre Pequim e Washington por causa de reivindicações marítimas da China e das atividades navais dos EUA se somam a uma lista de outros motivos de irritação entre as duas partes, como as vendas de armas norte-americanas a Taiwan, a repressão no Tibete, as restrições chinesas na Internet e a política cambial da China.

NOVAS MANOBRAS

A Coreia do Sul e os Estados Unidos começaram nesta segunda-feira mais uma série de exercícios militares conjuntos na península coreana, utilizando tropas, submarinos, navios de guerra e aviões dos dois países.

As manobras chegam após disparos realizados na semana passada pela Marinha norte-coreana e também dias depois de a China ter manifestado sua posição de líder regional, fazendo seus próprios exercícios e demonstrando sua insatisfação com o crescimento da presença militar dos EUA.

Com a duração de 10 dias, os esforços conjuntos incluem a participação de 50.000 soldados sul-coreanos e 30.000 americanos.

AP
Navio de guerra dos EUA no porto de Busan, na Coreia do Sul; países deram início a novas manobras militares
Navio de guerra dos EUA no porto de Busan, na Coreia do Sul; países deram início a novas manobras militares

A movimentação militar na região é parte de uma série de manobras iniciadas pela Coreia do Sul --sozinha ou em conjunto com os EUA-- após o naufrágio de um navio de guerra em março, atribuído por uma comissão de investigação internacional a um torpedo norte-coreano.

O naufrágio da corveta "Cheonan", em 26 de março, em uma zona marítima de fronteira, que matou 46 marinheiros sul-coreanos, aumentou consideravelmente a tensão entre as duas Coreias.

Pyongyang ameaçou infligir "o mais severo dos castigos" aos Estados Unidos e à Coreia do Sul em resposta aos exercícios.

O governo da Coreia do Norte nega qualquer envolvimento no afundamento do "Cheonan" e afirma que as manobras navais são destinadas a preparar uma "invasão militar".

REGIÃO

O exercício anual ocorre uma semana depois que Seul completou um treinamento militar perto de uma fronteira marítima em disputa na costa oeste, o que levou o Norte a retaliar com o disparo de uma carga de artilharia na mesma área.

Respondendo com a mesma retórica do passado, a reclusa Coreia do Norte afirmou que o recente exercício militar era "um ato perigoso para acender o pavio de uma nova guerra."

Pyongyang frequentemente recorre a expressões belicosas para se fazer entender, mas analistas dizem que é improvável que o país arrisque uma guerra que a colocaria contra as Forças Armadas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.

25.jul.10/Reuters
Estados Unidos e a Coreia do Sul deram início a grandes exercícios militares em julho; objetivo foi afrontar regime de Pyongyang
Estados Unidos e a Coreia do Sul deram início a grandes exercícios militares em julho; objetivo foi afrontar regime de Pyongyang

Mas autoridades norte-americanas disseram que é possível que haja mais provocações do Norte nos próximos meses, considerando-se que Pyongyang está tentando gerar um impulso político para a sucessão do líder Kim Jong-il, que deverá entregar o governo do país a seu filho.

ESPÍRITO INVENCÍVEL

Ainda no final de julho os EUA e a Coreia do Sul realizaram uma primeira série de manobras militares. Foram quatro dias de exercícios militares conjuntos, batizados como a operação "Espírito Invencível" -- cujo objetivo era amedrontar a Coreia do Norte.

As manobras foram centradas em operações antissubmarinos e contaram com a participação do porta-aviões nuclear americano USS George Washington, 20 navios de guerra, 200 aviões de combate e 8.000 soldados.

Lee Jung-Hoon/Reuters
Cerca de 200 aeronaves, 20 navios de guerra e 8.000 tropas dos EUA e de Seul participam das manobras
Cerca de 200 aeronaves, 20 navios de guerra e 8.000 tropas dos EUA e de Seul participam das manobras

Apesar das ameaças de represálias com seu poder nuclear por parte de Pyongyang, os exercícios foram realizados sem informações sobre qualquer incidente.

Coreia do Sul e EUA asseguraram que estas operações são de caráter defensivo, e informaram que devem realizar mais manobras conjuntas nos próximos meses na península coreana.

REAÇÕES

A China protestou contra as manobras militares. Pequim criticou a introdução de equipamentos militares em larga escala no Mar Amarelo.

A Comissão Nacional de Defesa da Coreia do Norte prometeu lançar uma "guerra sagrada" contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul a "qualquer momento que se faça necessário" em resposta às manobras.

O país também ameaçou responder aos exercícios conjuntos no Sul por meio de uma "potente dissuasão nuclear".

O jornal "Minju Joson", ligado ao poder norte-coreano, chegou a publicar ameaças, afirmando que "o Exército e o povo da RPCN (Coreia do Norte) tomarão medidas fortes de represália, com dignidade, apoiando-se em seu potente poder de dissuasão nuclear".

 

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