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Itália não sabe o que fazer com imigrantes tunisianos
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VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A LAMPEDUSA
Entidades de defesa dos direitos humanos pressionam o governo italiano para que acelere a transferência dos cerca de 5.000 tunisianos que fugiram de seu país e desembarcaram em Lampedusa, uma pequena ilha no sul da Itália.
Elas temem que a "invasão" da ilha, até agora pacífica, saia de controle.
Ontem houve ameaça de greve de fome, e na noite anterior a casa do cantor italiano Claudio Baglioni, que estava vazia, foi invadida por um grupo de seis homens. Não destruíram nada --passaram a noite e comeram o que estava na geladeira.
Os tunisianos, a maioria homens na casa dos 20 anos, decidiram fugir em barcos após a queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali, no dia 14 de janeiro.
Eles dizem que a Tunísia vive num estado de guerra.
"Não há emprego, não há dinheiro. Há tiros pelas ruas. Não que a situação fosse melhor com o ditador. Era ainda pior. Mas o país continua sem futuro", afirma Calid Misbah, 25, que ficou 22 horas em um barco até chegar a Lampedusa no domingo.
SUPERLOTAÇÃO
Misbah e os outros ficam espalhados pela cidade e também no Centro de Imigrantes, que tem capacidade para 850 pessoas, mas ontem abrigava 1.720.
As condições são precárias. Muitos dormem no chão e há filas para banho e na hora das refeições. Alguns preferem dormir nas praças ou na praia, apesar da temperatura de 12 graus.
"Claro que não é um hotel cinco estrelas. Mas é o que podemos fazer. Foram 5.000 que desembarcaram aqui em poucos dias. Ao menos conseguimos dar pão e leite de manhã e comida quente no almoço e no jantar", afirma Cono Galibo, responsável pelo centro.
O que os imigrantes mais reclamam é da espera e do medo de serem obrigados a voltar para a Tunísia.
Em Lampedusa, não estão sendo nem identificados, o que é o primeiro passo para o processo de concessão de asilo ou visto para que possam se locomover livremente pelo continente.
"Nós, que vamos ao centro de imigração todos os dias, vemos a tensão aumentar. É preciso que haja mais remoções, para que eles mantenham a esperança de que algo de bom vai acontecer", afirma Flavio di Giacomo, da Organização Internacional para a Migração.
Não houve transferências para centros de identificação na terça e quarta-feira. Ontem, 170 foram levados para a Sicília. Entre eles, 30 menores de idade.
O problema, afirma Di Giacomo, é que o governo não está conseguindo encontrar lugares nos outros centros de migração do país.
Enquanto esperam, os tunisianos ficam num vaivém pela cidade de 6.000 habitantes, que teve sua rotina alterada pelos recém-chegados e por 200 policiais enviados para reforçar a segurança.
Andam em bando e abordam várias pessoas para pedir cigarro, cujo preço é mais que o dobro do da Tunísia.
Em busca de dinheiro, tentam vender para jornalistas imagens gravadas em celulares da travessia que fizeram. Pedem 100 euros (R$ 227), cerca de um décimo do que pagaram para embarcar.
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