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10/03/2011 - 10h11

No campo de refugiados, maior luxo é telefonar

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SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A RAS JEDIR (TUNÍSIA)

O pior para os milhares de refugiados amontoados há dias em barracas plantadas na areia não é o desconforto material, mas o total desamparo moral e psicológico.

O diagnóstico é de uma das mais tradicionais entre as organizações humanitárias instaladas no campo ao sul da Tunísia para acolher trabalhadores de dezenas de países que chegam diariamente fugindo da Líbia.

O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho aposta que os esforços para repatriar os migrantes agrupados a seis quilômetros do posto de fronteira de Ras Jedir serão bem-sucedidos.

Lefteris Pitarakis/AP
Homens de Bangladesh, que trabalhavam na Líbia e fugiram do confronto, esperam na fila da comida
Homens de Bangladesh, que trabalhavam na Líbia e fugiram do confronto, esperam na fila da comida

Mas é fundamental manter sob controle o nervosismo e a impaciência coletivos.

Boa parte dessa estratégia consiste em ajudar os retirantes a ter contato com parentes em seus respectivos países de origem.

A maioria das cerca de 15 mil pessoas atualmente acampadas é formada por cidadãos de Bangladesh, Gana, Nigéria e Somália que saíram da Líbia depois que a crise política parou a economia.

Sem dinheiro, muitos ainda foram fisicamente agredidos ao ser confundidos com mercenários estrangeiros contratados para defender Muammar Gaddafi.

Há incontáveis relatos de roubos, de telefone celular principalmente, no caminho até a Tunísia.

A organização coloca à disposição dos retirantes telefones celulares que lhes permitem chamar gratuitamente amigos ou familiares.

Para evitar excesso de fila diante das barracas onde são emprestados os aparelhos, cada ligação só pode durar, no máximo, três minutos.

O cenário na área reservada aos telefonemas é o de uma agitada cacofonia, na qual migrantes de vários países falam alto, cada um em sua língua natal, enquanto caminham em círculos com o celular grudado na orelha.

Uns estampam sorrisos e parecem relatar coisas boas. Outros claramente estão discutindo com o interlocutor.

LOGOTIPO

Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, ambos parte de uma mesma organização que usa logos diferentes conforme o país de atuação, também ajudam migrantes a localizar parentes e amigos em zonas de conflito.

Informações passadas pelos retirantes são tratadas e investigadas em coordenação com agências locais presentes em 186 países.

Na Tunísia, como na vizinha Líbia, boa parte dos esforços estão a cargo do Crescente Vermelho. Embora seja um símbolo do islã, o logo não tem conotação religiosa, mas histórica, diz Ahmed Twati, 31, coordenador do campo perto de Ras Jedir.

"Foi decidido no início do século 20 que os países que eram parte do império otomano usariam o crescente", afirma, enquanto mostra as instalações da organização que tem reconhecimento jurídico internacional e, portanto, não é uma ONG.

Há barracas nas quais são preparadas refeições quentes para milhares de pessoas. Em outras, estão acomodadas algumas das poucas famílias com crianças.

Também há acomodações para as dezenas de voluntários de vários países que reforçam o contingente de funcionários tunisianos e vindos de Genebra, sede da organização-mãe, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Segundo um funcionário do comitê que não quis se identificar, o campo continuará funcionando por semanas ou meses.

"Há milhares de pessoas querendo chegar à Tunísia. É o presente de Gaddafi aos tunisianos por terem começado as revoltas", ironiza.

 

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