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Conflito sírio exige uma ONU renovada, afirma leitor
LEITOR JOÃO BAPTISTA M. VARGENS
DO RIO DE JANEIRO
A comunidade internacional tomou conhecimento da renúncia do ex-secretário-geral ONU, Kofi Annan, da missão para tentar negociar um acordo de paz entre o governo e a oposição rebelde na Síria, e procura alternativas, diplomáticas ou belicosas.
Na verdade, a diplomática terá pouca chance de sucesso, ou mesmo nenhuma, uma vez que países do Golfo Árabe, a Turquia, os Estados Unidos e a União Europeia apoiam, declaradamente, os opositores ao regime de Bashar al Assad com recursos financeiros, armamentos leves e pesados, e estratégias militares. A via de uma intervenção armada poderá desestabilizar toda a região e ameaçar interesses do mundo ocidental.
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O fracasso do plano proposto pelo enviado das Nações Unidas e as dificuldades encontradas para pôr fim aos lamentáveis fatos ocorridos na Síria evidenciam, também, a necessidade de uma ampla reformulação das regras obsoletas que regem a instituição, ajustando-as à realidade atual. Certamente, o mundo de hoje é bem diferente daquele do final da Segunda Guerra Mundial e, por conseguinte, suas necessidades e anseios mudaram diametralmente.
Neste episódio, percebe-se a dificuldade encontrada pelo governo sírio para dialogar com a oposição, quando dos primeiros protestos, há pouco mais de um ano. Naquela ocasião, eram necessárias respostas urgentes para questões antigas, que poderiam emergir a qualquer momento.
As revoltas populares iniciadas na Tunísia abalaram não somente aquele país norte-africano, mas, também, outros estados árabes, cujas populações buscavam novos horizontes. A falta de sensibilidade do governo de Al Assad provocou o acirramento de desavenças antigas no seio da sociedade síria, dando oportunidade para que, em nome de uma ação humanitária, potências econômicas do Ocidente e do mundo árabe se intrometessem, com o único intento de derrubar o presidente da Síria.
18.jul.2012/Reuters | ||
Protesto contra o regime de Bashar al Assad na cidade de Deir al Zour, no leste da Síria |
Como se sabe, o médico oftalmologista Bashar al Assad, formado por uma universidade britânica, sucedeu o pai Hafez al Assad e promoveu uma abertura política no país, que se não chegou a ser a desejável, agradou parte dos adversários políticos de seu pai.
Para as potências ocidentais, Israel e certos países árabes, o pecado mortal de Bashar foi apoiar a heroica resistência libanesa, quando da última invasão do país por forças israelenses em 2006. A ajuda militar síria ao partido nacionalista libanês Hizbollah e a derrota imposta aos invasores jamais serão perdoadas. As estreitas relações entre Damasco e Teerã também incomodam bastante àqueles que, há muito, manipulam o mapa geopolítico do Oriente Médio.
É de se destacar a atitude correta e ponderada do Ministério das Relações Exteriores do Brasil que, avesso a qualquer intervenção armada, defende o diálogo entre as partes conflitantes, acreditando ser esse o único caminho para uma paz negociada e duradoura.
Com toda a certeza, embora assolado pela dor de uma luta fratricida, encorajada por países estrangeiros, o povo sírio, que na Idade Média expulsou os cruzados de seu território e, mais recentemente, turcos e franceses, encontrará seu caminho, calcado no diálogo entre as diversas comunidades que, há séculos, forjam meios para uma convivência harmoniosa.
João Baptista M. Vargens é professor titular do setor de Estudos Árabes da UFRJ
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