Para diretor do Museu Afro Brasil, é mais difícil ser negro em SP
Após uma temporada no Benin em janeiro, o diretor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, 70, voltou com ideias para pôr em prática ainda neste ano. "O país tem uma história íntima com o Brasil, é uma África muito próxima da gente", diz ele, que em agosto passado realizou a mostra "As Artes do Benin".
Idealizador do museu, inaugurado em 2004, o baiano de Santo Amaro da Purificação chegou à capital em 1971 e se instalou em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. "Mas fiquei com vontade de sentir cheiro de gasolina e fui para a avenida São Luís", diz ele, que ainda hoje mora na região central da cidade.
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Isadora Brant - 23.jan.12/Folhapress |
Emanoel Araujo, 70, diretor do Museu Afro Brasil, afima que o ramo das artes plásticas ainda é elitista no Brasil |
sãopaulo - De que jeito você vê São Paulo hoje?
Emanoel Araujo - Aquela cidade que conheci em 1971 acabou. São Paulo tinha um clima provinciano. Hoje está agressiva, cresceu muito. Ao mesmo tempo, é fascinante, tem vitalidade, originalidade e pessoas que se arriscam, que são inventivas.
Como avalia a ausência de negros na arte contemporânea da cidade?
É uma questão perversa. De um lado, temos uma comunidade negra marginalizada; do outro, um muro invisível na zona leste e na zona sul. E há um desconhecimento do público. Outro dia alguém me disse: 'Meu amigo não vai ao Museu Afro Brasil porque só tem macumba'.
Há preconceito nesse mercado?
Lógico, e não só da cor, mas também social. O ramo das artes plásticas é elitista. Furar esse bloqueio sendo negro no Brasil é difícil. Sendo negro em São Paulo é ainda mais. Não há negros na propaganda, não há negros na Fashion Week.
Que forma teria uma escultura sua para representar a cidade?
Seria geométrica, com formas abertas e fechadas, abstrata e de metal. São Paulo instiga uma obra construtiva, mais do que figurativa. Houve isso, em referência aos bandeirantes, agora não mais.
Em qual lugar se sente em casa?
Na Bela Vista, pelo folclore, pela religiosidade e pelo sincretismo. A Vila Madalena também tem um lado baiano, pela sua topografia. Se bem que a Bahia recente está tão deteriorada...
São Paulo tem malemolência?
Sim, em bairros como o Bexiga e a Vila Madalena. Você reconhece as pessoas na rua. Isso faz de São Paulo aquela província de antigamente.
Onde comer um bom acarajé?
Aqui mesmo no museu. Sempre tem o acarajé da dona Júlia nas nossas exposições, é servido de graça.