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Bancada ruralista avança PL que flexibiliza agrotóxicos em meio a debate por PEC da Transição

PT decidiu não criar embaraços para votação, e projeto foi incluído de última hora na pauta da Comissão de Agricultura

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Brasília

Em meio à negociação para a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, a bancada ruralista conseguiu avançar no Senado o projeto que flexibiliza as regras para autorização ao uso de agrotóxicos, conhecido como PL do Veneno, e pressionou o PT a aceitar a votação do texto ainda neste ano.

O projeto entrou na pauta da Comissão de Agricultura do Senado (CRA) em uma reunião extraordinária, marcada de última hora, nesta segunda (19) —na última semana antes do recesso parlamentar e um dia antes da data acertada para a votação da PEC da Transição na Câmara.

Placa sinaliza o uso de agrotóxico em plantação de milho próximo à APA (Área de Proteção Ambiental) Nascentes do rio Paraguai, onde nasce o rio Paraguai
Placa sinaliza o uso de agrotóxico em plantação de milho próximo à APA (Área de Proteção Ambiental) Nascentes do rio Paraguai, onde nasce o rio Paraguai - 6.mar.2021 - Lalo de Almeida/Folhapress

Tradicionalmente, essa comissão só se reúne às quintas-feiras. Na sessão desta segunda, o novo relatório foi lido e a matéria, deliberada, tudo em menos de uma hora —e com cerca de meia hora para que o texto pudesse ser analisado pelos parlamentares, após um pedidos de vistas.

O PL quase foi votado no fim do mês passado, mas a votação foi adiada a pedido do grupo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos últimos dias, no entanto, o texto entrou no bojo das negociações para a aprovação da PEC da Transição, e o PT decidiu que não criaria embaraços para a votação no Senado.

Apesar de ter concordado em votar o projeto de lei, integrantes do partido afirmam sob reserva que a ideia é manter a postura defendida até aqui —contra a aprovação do PL— e levar a discussão para o plenário. O texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em fevereiro e depende, agora, do aval do Senado.

O senador Paulo Rocha, líder do PT na Casa, ainda apresentou um voto em separado durante a sessão na CRA. "Tem que ficar clara a posição do PT nesse debate", disse ele, que fez críticas ao projeto e afirmou que ele precisava ser mais longamente debatido e que o texto deveria ser revisado para diminuir seus impactos.

"[Nós] não temos como não encaminhar contra esse projeto, do jeito que ele está", completou. Mesmo assim, o texto avançou.

O Ministério da Agricultura já havia pedido a interlocutores de Lula junto ao agronegócio que aproveitassem as negociações em torno da PEC da Transição para aprovar também o chamado PL do Autocontrole —que muda o sistema atual, exclusivamente estatal, e prevê o autocontrole na produção agropecuária.

Com medo de que o chamado PL do Veneno seja aprovado pelo Congresso em 2023, mas vetado por Lula, a bancada ruralista quer garantir que o texto seja aprovado a tempo de ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que é a favor das mudanças.

Prioridade do Ministério da Agricultura, o PL amplia o poder da pasta para licenciar agrotóxicos e esvazia as atribuições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Dentre outros pontos, o texto também substitui o termo "agrotóxico" na legislação por "pesticida", e fixa o prazo para obtenção do registro desses produtos. O projeto também prevê licenças temporárias caso o prazo não seja cumprido pelos órgãos competentes.

O presidente da Comissão de Agricultura do Senado, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que também é relator do PL, apresentou um novo parecer na sexta-feira (16). O relator fez ajustes pontuais no texto para diminuir a resistência dos senadores que são contrários à aprovação.

Gurgacz afirmou que buscou deixar claro que "serão preservadas as competências dos responsáveis pelo setor da saúde e de meio ambiente". A redação atual mantém, no entanto, a Anvisa e o Ibama com função homologatória. A mudança também deixa em aberto quais serão os critérios para priorizar as análises pelos órgãos.

O PL colocou em rota de colisão os integrantes da transição do novo governo ligados à agricultura e ao meio ambiente. Em reunião no fim do mês passado —logo após o adiamento da votação— os ambientalistas sugeriram a apresentação de um novo projeto de lei, que tivesse consenso, no primeiro semestre de 2023.

O grupo reforçou que emendas pontuais, que ainda podem ser apresentadas, não conseguem mais corrigir os problemas do texto. Pessoas que participaram do encontro relataram que Gurgacz afirmou que levaria a proposta à bancada ruralista, mas não se comprometeu em retirar o PL da pauta definitivamente neste ano.

Um dos principais defensores do projeto é o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), cotado para o Ministério da Agricultura e um dos coordenadores do grupo de agricultura da transição do novo governo. Já Acir Gurgacz integra a equipe de transição de Lula na área de infraestrutura.

Por outro lado, o projeto é alvo de duras críticas da ex-ministra do Meio Ambiente e deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), do grupo de trabalho do meio ambiente. Marina foi uma das principais apoiadoras de Lula no segundo turno e também está cotada para assumir algum posto no governo.

Como mostrou a Folha, o PL que flexibiliza os agrotóxicos é a principal proposta do pacote apelidado por ambientalistas de "boiadinhas". O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), enviou o projeto apenas para a CRA, dominada por ruralistas, e decidiu ignorar a análise da CMA (Comissão de Meio Ambiente) e da CAS (Comissão de Assuntos Sociais).

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