Doutora em filosofia, pós-doutoranda em direito internacional e autora do livro 'Um Olhar Liberal Conservador sobre os Dias Atuais'
A menina, o aborto e o espetáculo
Hospital poderia ter alcançado não a eliminação de um feto, mas um nascimento prematuro
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Ao criticar a caricata militante que expôs o nome da menina de dez anos que foi estuprada e engravidou, ao criticar a confusão que isso provocou na porta do hospital e ao afirmar que tal atitude só daria mais argumentos para a narrativa pró-aborto, um espécime desses que campeiam nas redes sociais xingou-me de “abortista enrustida que não merece nem uma cuspida na cara”.
Ocorre que uma situação complexa como essa não se resolve com grito nem cuspe. A despeito da intimidação, o nascimento de uma criança foi impedido em meio à espetacularização promovida por ambos os lados de uma militância ideológica.
Com um atendimento adequado, o hospital poderia ter alcançado não a eliminação de um feto de quase seis meses, mas um nascimento prematuro, já que nessa idade gestacional há probabilidade de sobrevivência. Parir uma criança morta, afinal, não pode ser menos traumático do que parir uma criança viva.
Se a mãe estivesse em risco e o procedimento fatal não pudesse ser evitado, a criança deveria ser conduzida discreta e imediatamente à instituição adequada para reabilitação após o trauma. De uma forma ou de outra, o caso era de acompanhamento profissional, não de militância de donos da verdade empedernidos.
Tanto aqueles que defenderam o aborto quanto aqueles que supostamente preocuparam-se com a vida que ela carregava no ventre expuseram a menina. Muitos contribuíram para deixar marcas dolorosas, e poucos contribuíram efetivamente para ampará-la. É uma criança, afinal! Nada se apaga da memória infantil. Tudo ficará na tessitura inconsciente da personalidade adulta: a dor do abuso sexual, o fenômeno mal interpretado da gravidez, a morte do feto e a celeuma que fizeram da sua tragédia pessoal.
A caridade age em silêncio. Onde houve alarde, não houve amor. O que mais faltou nesse triste episódio foi grandeza moral e compaixão. Politizar a desgraça alheia à direita ou à esquerda não significa nada de concreto em termos de moralidade.
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