O que acontece no Carnaval fica no Carnaval, os quatro diziam. Eram os melhores amigos desde a faculdade —que três deles não chegaram a concluir, atropelados pelos cálculos do currículo e pelas dificuldades da vida. 

Hoje um tem uma franquia dos Correios, outro vende Herbalife com a mulher e o terceiro é marido de aluguel. O que se formou está trabalhando como motorista de Uber.

O que acontece no Carnaval fica no Carnaval, os quatro diziam. Foi assim que aprontaram todas e sacanearam as respectivas por vários Carnavais. O sujeito ilibado para consumo externo, mas um sátiro nas costas da sociedade, sabe o tipo? Não que os sátiros não possam ser ilibados. 

O advento do smartphone trouxe alguma preocupação: e se vazar uma foto, um vídeo, e se alguém for marcado no Instagram? Difícil explicar os quatro num trenzinho. Combinaram de, nesse caso extremo, jurar de pés juntos: foi Photoshop. 

Durante todo esse tempo, zero crise de consciência. 

As famílias ficavam bem, todas na praia, no apartamento do que tinha a franquia. Era perto do mar? Não era, mas caminhar nunca matou ninguém. E as esposas também gostavam desse tempo só para elas, eles afirmavam. Mesmo tendo que cuidar sozinhas da filharada.

Aquele Carnaval do Bolinha acabou virando uma convenção tão importante quanto o Natal e os aniversários de casamento. Os quatro já começavam a pensar nas desculpas, mais tardar, em setembro. Carnaval é muita zoeira, nós vamos pescar.

Esse ano vamos tirar o período do Carnaval para visitar o nosso saudoso professor de mecânica aplicada no interior.

O ano foi muito estressante, nós quatro vamos fazer um retiro desta vez.

Carnaval é bom para quem é solteiro, casados como a gente gostam é de acampar.

O que acontece no Carnaval fica no Carnaval. Na Quarta-feira de Cinzas, pontualmente ao meio-dia, os quatro estavam de volta, chupando Halls preto para disfarçar o bafo. 

As olheiras? Muito mosquito, não deu para dormir direito. Mas dessa vez, algo fugiu ao controle. Depois de uma noite daquelas, os quatro apareceram com BOLSONARO, em caixa alta, tatuado na testa. Nem o que garante ter votado no Amoêdo foi poupado. 

Vai ser difícil explicar.