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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

Descrição de chapéu mostra de cinema

Roteirista retratado em 'Mank' dividia com Orson Welles a paixão por drinques

Clássico negroni agradava o paladar do ator e diretor de 'Cidadão Kane'

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São Paulo

Herman Mankiewicz é carregado para dentro de uma casa no meio do deserto. Está engessado até o quadril depois de um acidente de carro. Sua missão: escrever o roteiro daquele que seria o filme mais comentado no mundo.

Preso à cama, entre o sono e a vigília, imagina cenas com base em suas lembranças do tempo em que privava da intimidade com o magnata das comunicações William Hearst e sua amante, a atriz Marion Davies.

Eles são o assunto velado do filme que um jovem ambicioso chamado Orson Welles pretende realizar. A aposta é alta. Hearst e seus asseclas querem impedir a todo custo que "Cidadão Kane" saia do papel.

Mankiewicz é um iconoclasta de alma, rápido e irônico, e também um romântico incorrigível. Para ele, a bebida parece servir para amortecer a mediocridade do mundo. Só consegue terminar o roteiro com a ajuda de muitas garrafas de single malt.

Em "Mank", ótimo filme de David Fincher que estreou recentemente na Netflix, há várias cenas de bebedeira de Mankiewicz, o verdadeiro gênio por trás de "Kane", segundo muitos críticos.

Com graciosidade, ele vai apanhando todas as taças que flutuam em bandejas ao seu redor. Numa dessas cenas, invade um banquete oferecido por Hearst e vomita, literalmente, verdades na cara do figurão. Dizia o que pensava. E pensava melhor que todo mundo.

Hearst, um antigo defensor da Lei Seca, era chato com bebida. Exigia que houvesse um limite de drinques para seus convidados, que incluíam a nata da Hollywood dos anos 1920, 30 e 40. Alguns, como o ator Erroll Flynn e a escritora Dorothy Parker, se escondiam do olhar do anfitrião para se embebedar.

A própria Marion Davies carregava um frasco de gim, just in case. Uma noite, deixou-o cair no chão e ele quebrou. Imperturbável, disse ao seu protetor: "Gostou do meu perfume novo?"

Orson Welles e Anthony Bourdain

Welles aparece pouco em "Mank", quase sempre ao telefone, pressionando Mankiewicz com sua autoconfiança estratosférica.

Não o vemos bebendo seu coquetel favorito, o negroni. Famoso por milhões de motivos, entre eles o de ser um bon vivant, o ator e diretor dizia que, no negroni, "o bitter (Campari) é excelente para o fígado; o gim é ruim para a saúde. Um compensa o outro."

Outro fã famoso dessa bebida que é a segunda mais pedida no mundo (só perde para o old fashioned) é o saudoso chef e apresentador Anthony Bourdain. Certa vez, declarou: "Não gosto de nenhum dos ingredientes separados, mas quando eles se juntam, aí sim, se transformam num satânico e delicioso drinque do inferno."

Em outra ocasião, gravando na Toscana, resolveu preparar uns negronis para sua equipe. Depois de um tempo, já trôpego, foi pegar um queijo na cozinha e viu o cameraman desmaiado no freezer. "Eu tinha esquecido que depois de tomar quatro ou cinco, o negroni te atropela como um trem de carga."

Dramas cômicos à parte, o negroni é o drinque perfeito na matemática: três partes iguais de três elementos diferentes que se harmonizam como um trio de jazz.

Negroni

Ingredientes

  • 30 ml de gim
  • 30 ml de vermute doce
  • 30 ml de Campari

Passo a passo
Servir todos os ingredientes em um copo old fashioned com gelo e mexer. Colocar uma rodela ou casca de laranja.

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