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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

Em festa no Peru, uma rodada de pisco sour para todos

Bebida permeou casos literários e pode ser usada para brindar novidades no país

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O plano era preparar a edição dos diários de Julio Ramón Ribeyro, escritor peruano conhecido no Brasil pelas saborosas "Prosas Apátridas" e pelos contos cristalinos de "Só para Fumantes". O livro se chamaria "La Tentación del Fracaso", nome que dá uma amostra do humor idiossincrático de Ribeyro.

Santiago Gamboa, autor colombiano, foi à casa dele para ver o catatau de manuscritos que formariam a obra. Ribeyro, um amante dos vinhos franceses, não se fez de rogado e preparou uma série de pisco sours. O livro quase vai pelo ralo, mas logo virou referência para a literatura latino-americana. O prólogo é de Enrique Vila-Matas. Falta uma tradução para o português.

Coquetel pisco sour - Brent Hofackern/Adobe Stock

Entre as frases espirituosas contidas em suas 700 páginas, há várias relacionadas ao consumo criativo e recreativo do álcool. "Ao beber mudamos de lente e recebemos do mundo uma imagem diferente do habitual. Neste sentido, a embriaguez é um método de conhecimento. A moderada, ou seja, aquela que nos afasta de nós mesmos sem nos desligar."

Como os personagens do filme "Druk", porém, nem sempre conseguiu manter-se nesse limite delicado entre a flutuação e o despencamento. "O único modo de me comunicar com o escritor que há em mim é através da libação solitária. Depois de uns copos, ele emerge. E então escuto sua voz um pouco monocórdica, imperiosa, e a registro. Busco retê-la, até que vai ficando embaralhada e desaparece, enquanto eu me afogo num mar de náuseas."

Seu duplo, o escritor, se esvai, mas Ribeyro não perde a ironia: "A que poço terrível eu o releguei (...) talvez me lembre dos tempos felizes em que coabitávamos!".

Bebida nacional do Peru, o pisco surgiu pouco depois da chegada dos espanhóis, no começo do século 16. A palavra vem do quéchua e quer dizer pássaro. Dá nome também à região e porto de onde saíam as embarcações carregadas com o destilado de uva. Um dos destinos era San Francisco, nos EUA, onde fez furor antes que a Lei Seca dificultasse a importação, em 1920.

O testemunho de Harold Ross, fundador da New Yorker, é categórico: "Todos os bares de San Francisco ofereciam pisco punch —alguns só pisco punch". Era uma receita com suco de abacaxi, hoje bem menos lembrada que o pisco sour.

A história do pisco é problemática. Isso porque o Chile também reivindica a paternidade. Os dois países fizeram parte da mesma colônia, o Vice-Reino do Peru. As culturas, no entanto, são bem diferentes, assim como o pisco produzido em cada região.

Os peruanos devem ter pelo menos 40% de álcool, ao passo que os chilenos podem ter apenas 30%. A medida do poeta Pablo Neruda, Nobel de literatura e orgulho maior do Chile, é outra: "há um milhão de anos ensolarados numa gota de pisco".

O poeta e escritor chileno Pablo Neruda - AFP

Em todo caso, o calor maior vem da terra de Mario Vargas Llosa, também nobelizado. Longe de ser um bebedor, ele incluiu muitos bares em sua obra. Como o Catedral de "Conversa na Catedral", um templo da embriaguez, não da elevação mística.

Mas vamos à festa. O Peru acaba de eleger seu primeiro presidente de origem popular, com uma plataforma de esquerda. Na próxima quarta (28), o país comemora o bicentenário da independência. Como se não bastasse, domingo (25) é o Día Nacional del Pisco.

Hora boa para aplicar o método de conhecimento de Ribeyro. Salud!

PISCO SOUR

  • 60 ml de pisco
  • 25 ml de suco de limão
  • 15 ml de xarope de açúcar
  • 1 clara de ovo

Passo a passo
Bata a seco os ingredientes numa coqueteleira. Em seguida, acrescente gelo e bata de novo. Sirva numa taça coupe gelada e pingue três gotas de Angostura.

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