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Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Tarcísio na pedagogia da enrolação

O governador tem preparo e sabe do que está falando

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Depois do anúncio de uma desastrada iniciativa para levar a pedagogia da rede pública de ensino de São Paulo para plataformas digitais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pareceu ter corrigido o curso, anunciando: "Nós vamos encadernar [o material] e entregar impresso, encadernado. Ou seja, se o aluno quiser estudar digitalmente ele vai poder, se ele quiser estudar no conteúdo impresso ele também vai ter essa opção".

Se Tarcísio tivesse chegado ao Governo de São Paulo depois de ter feito fama plantando couve, essa declaração seria aceitável. Ele foi um aluno estelar do Instituto Militar de Engenharia. Depois, foi um administrador severo na faxina do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e um correto ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro. Com essas credenciais, sabe do que está falando e, por sabê-lo, passou a pedagogia da truculência para a da enrolação.

Um caminhão e uma locomotiva são meios de transporte, mas não se pode colocar locomotivas em estradas nem caminhões sobre trilhos. O mesmo acontece com o material escolar impresso e os livros ou apostilas colocados em plataformas eletrônicas.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas - Isadora de Leão Moreira - 3.mai.23/Divulgação Governo de SP

Deixe-se de lado a questão dos custos e da disponibilidade de equipamentos para a impressão dos volumes, o que não é pouca coisa. O governador se queixa porque "tudo vira polêmica, mas eu acho que as coisas às vezes são mal comunicadas por nós mesmos".

Seu secretário de Educação, Renato Feder, anunciou que dispensaria os livros impressos do Ministério da Educação, migrando para as plataformas eletrônicas. A natureza truculenta da comunicação passou por cima da sua própria essência polêmica: a migração do livro impresso para o eletrônico. Há aí uma saudável polêmica, desde que, como toda polêmica, abrigue um debate.

O uso de equipamentos eletrônicos nas escolas é uma janela para o futuro, mas a experiência de Pindorama nessa área tem mais a ver com malfeitorias de todos os tempos. Estão aí os kits de robótica superfaturados que foram para prefeituras alagoanas. Também esteve aí a compra bilionária de laptops pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, barrada pela Controladoria-Geral da União.

O secretário Feder disse que neste semestre poderá distribuir para estudantes 20 mil celulares apreendidos pela Receita Federal. Como, não explicou. Sabe-se que o secretário é acionista de uma empresa que vendeu ao governo de São Paulo, na administração passada, 97 mil notebooks, no valor de R$ 200 milhões.

Atrás dos livros didáticos impressos existe um mercado bilionário, e atrás da pedagogia digital existe outro, mais complexo. A Bíblia de Gutemberg, impressa no século 15, está nos museus e, além dos cuidados de limpeza, não exige manutenção. As plataformas eletrônicas exigem manutenção permanente e dispendiosa.

A ideia segundo a qual um estudante pode optar pelo livro impresso ou sua versão eletrônica é pura enrolação. Se o governador e seu secretário querem modernizar o ensino público de São Paulo, podem fazê-lo sem truculência ou enrolações.

Basta que se movam ao ritmo da burocracia, evitando a sofreguidão, muitas vezes tóxica, do ritmo de empresários interessados em fechar negócios.

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