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Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Alegar fraude nas eleições é estratégia de campanha de Trump

Nunca houve um presidente tentando ativamente deslegitimar o resultado de uma eleição em benefício político próprio

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Durante a maior parte do verão no hemisfério norte, na corrida pela Presidência americana, o ex-vice-presidente Joe Biden manteve uma dianteira considerável sobre o presidente Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto.

Nas últimas semanas, porém, a margem de diferença entre os candidatos se estreitou.

Parte disso se deve à melhora da situação de saúde nos EUA relativa à pandemia (especialmente em relação aos índices de letalidade); parte tem a ver com a inevitável retomada econômica decorrente de a economia nacional ter sido reativada, depois de ter ficado paralisada na primavera; e outra parte se deve à discórdia renovada em torno da injustiça social.

Apesar de tudo isso, Biden ainda seria tranquilamente o favorito para vencer a eleição de 3 de novembro, com base nas pesquisas —se houvesse uma previsão de eleição justa. Mas ela não será justa. Isso torna a situação essencialmente imprevisível. A América nunca antes teve uma corrida presidencial como esta.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em aeroporto de Winston-Salem, na Carolina do Norte - Mandel Ngan - 8.set.20/AFP

A pandemia de Covid-19 tumultuou nossas vidas de maneiras grandes e pequenas. Também vai tumultuar o modo como os EUA votam e como esses votos são contados. Faltando menos de dois meses para a eleição, os locais de voto se preparam para os desafios logísticos que acompanham filas mais longas de eleitores e as medidas de distanciamento social que deverão ser adotadas.

Cinquenta estados realizando algo que na prática são 50 eleições separadas —legado do Colégio Eleitoral americano— para escolher o próximo presidente é algo que sempre foi uma façanha hercúlea.

Mesmo em climas políticos menos polarizados, eleições passadas foram marcadas por acusações de supressão de eleitores, erros administrativos eleitorais e interferência do exterior. Acusações semelhantes vão ser lançadas tanto antes quanto depois das eleições de 3 de novembro.

Mas o que é diferente desta vez é que essas denúncias serão amplificadas pelo atual presidente dos EUA, que vai colocar lenha na fogueira para tentar desequilibrar a balança a seu favor. Para Trump, alegar que a eleição é fraudada não é uma desculpa —é uma estratégia de campanha.

Nunca antes na história moderna dos EUA o país teve um presidente em exercício tentando ativamente deslegitimar o resultado de uma eleição americana em benefício político próprio.

O ataque possivelmente mais ofensivo e direto que Trump lançou recentemente foi contra o voto pelo correio, previsto para alcançar níveis inusitados devido à pandemia.

Trump já admitiu que não quer dar verbas ao Serviço Postal por medo de que os votos pelo correio sejam usados para cometer fraude eleitoral ampla, apesar de não haver nenhuma evidência disso.

Uma pesquisa publicada em agosto pela Democracy Fund e UCLA Nationscape mostra que mais de um em cada três eleitores cadastrados pretende votar pelo correio neste ciclo eleitoral e que os que vão votar em Biden têm duas vezes mais chances que os eleitores de Trump de fazê-lo.

Trump com certeza já viu os dados das pesquisas, o que ajuda a explicar seu chamado recente a partidários na Carolina do Norte para votarem duas vezes (algo que é inequivocamente ilegal), numa tentativa de provar que o voto pelo correio não é digno de confiança.

A imparcialidade e a legitimidade envolvem não apenas o trabalho concreto de assegurar que cada voto dado seja livre de influência indevida e seja contabilizado com precisão —ela requer também a percepção ampla de que há imparcialidade e legitimidade.

E, com a intenção de Trump de tachar como suspeito qualquer resultado da eleição que não o leve a ser declarado o vencedor, parece que já passamos do ponto de inflexão.

Se o resultado da eleição for apertado de qualquer maneira, o lado perdedor vai se sentir roubado. É um lugar perigoso para a democracia americana estar neste momento.

Os últimos meses mostraram que americanos de ambos os lados da linha divisória política estão dispostos a sair às ruas pelo que acreditam ser o certo. Quando se trata de algo tão essencial para o funcionamento da democracia quanto o voto, o potencial de violência política ampla e disseminada é real.

Não sabemos até que ponto essas tentativas de manipulação vão beneficiar as chances de reeleição de Trump; a acreditar nas pesquisas recentes, Trump está sentindo cada vez mais que tem pouco a perder. Mas a América tem muito a perder, sobretudo sua fé na democracia.

Tradução de Clara Allain

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