Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ian Bremmer
Descrição de chapéu China Governo Trump

Se alguém pode mudar rumo das relações EUA-China, esse alguém é Xi Jinping

Mesmo que Biden vença eleição, viés anti-China deve permanecer na política externa americana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente chinês Xi Jinping passou os últimos três anos convertendo a hostilidade do governo Trump em relação a Pequim em mais apoio a ele próprio em casa e em mais simpatia pela China no palco mundial. Então veio a pandemia.

A desastrada diplomacia pandêmica da China será vista como o momento da virada no relacionamento do país com o Ocidente. Para começar, a China acobertou a pandemia em suas fases iniciais.

Em seguida, Pequim lançou uma campanha arrogante de diplomacia médica que alardeava sua contenção bem-sucedida do vírus como prova da superioridade do modelo de governo chinês.

O líder chinês, Xi Jinping, durante evento em Pequim
O líder chinês, Xi Jinping, durante evento em Pequim - Ju Peng - 21.jul.20/Xinhua

Essa narrativa foi prejudicada quando alguns dos materiais médicos entregues ao exterior mostraram ser ineficazes. Essa foi uma combinação desastrosa para a imagem da China.

Mas ao mesmo tempo que a pandemia mudou para pior o relacionamento entre a China e vários outros países —o Reino Unido, Austrália, boa parte da Europa, Índia, entre outros—, ela veio apenas intensificar a deterioração que já estava em curso nas relações entre EUA e China.

Hoje, uma das poucas coisas sobre as quais democratas e republicanos concordam é a necessidade de os Estados Unidos adotarem uma linha mais dura com a China. Isso significa que qualquer esperança de reparar as relações EUA-China agora está nas mãos de Pequim, não de Washington.

Os acontecimentos deste verão no hemisfério norte não têm sido encorajadores nessa frente. Embora Trump esteja focado há muito tempo sobre o comércio entre os dois países, é a tecnologia que vem assumindo o lugar central nessa disputa comercial.

Nas últimas semanas vimos países como o Reino Unido excluírem a campeã chinesa Huawei da futura infraestrutura de telecomunicações 5G britânica; isso foi feito pelo menos em parte para ceder às exigências dos EUA. Pequim prometeu retaliar.

O fato de Washington ter forçado a venda do braço americano do TikTok a um novo comprador intensificou ainda mais a batalha tecnológica e provavelmente levará a um endurecimento maior do ambiente para as empresas de tecnologia americanas que operam na China.

Mesmo a disputa da China com a Índia após um enfrentamento entre os exércitos dos dois países no Himalaia acabou levando a um ganho para os EUA, na medida em que aumentou a penetração de empresas americanas no mercado indiano após a proibição retaliatória de aplicativos chineses decretada por Nova Déli.

A batalha tecnológica entre EUA e China continua a evoluir, e a China tem dado poucos sinais de que pretende recuar.

Uma briga tecnológica acirrada entre EUA e China já teria efeito prejudicial sobre nosso verão pandêmico, e é exacerbada pela decisão chinesa de adotar posturas mais agressivas sobre questões como Hong Kong, Taiwan e o mar do Sul da China.

O contrato implícito de Xi com a elite política chinesa prevê que, à medida que ele conquista mais poder, estará mais bem posicionado para comandar a ascensão da China como potência global e potência hegemônica na Ásia.

Para cumprir sua parte na barganha, Xi precisa ser intransigente sobre questões que são cruciais para o senso de soberania de seu país.

É essa a razão da recente repressão aos ativistas pró-democracia em Hong Kong e da aprovação de uma nova lei de segurança, além do comportamento mais assertivo no disputado Mmr do Sul da China.

Essas são iniciativas que visam não apenas os vizinhos da China, mas também os Estados Unidos.

Os EUA responderam na mesma moeda, tendo mais recentemente anunciado a visita do secretário americano de Saúde, Alex Azar, a Taiwan. É o representante americano de mais alto nível a visitar o território em anos, e isso constitui um sinal claro transmitido a Pequim.

Essa iniciativa partindo dos EUA não chega a surpreender –a classe política americana passou anos evoluindo para esta posição anti-China e não pode mudar de rumo facilmente.

Mesmo que Joe Biden vença a eleição em novembro, é provável que vejamos um viés anti-China semelhante na política externa americana, ainda que o discurso que a acompanha seja mais moderado.

Isso quer dizer que, se existe alguém que pode modificar o rumo das relações EUA-China neste momento, esse alguém é Xi Jinping, figura política transformadora que possui um histórico comprovado de alterar o relacionamento do Partido com a economia, a sociedade e a comunidade internacional.

Se existe uma rampa de saída no curto prazo para as relações EUA-China, é Xi quem terá que seguir por ela.

Xi passou os últimos três anos tentando reagir às provocações dos EUA de maneiras comedidas e proporcionais, na esperança de projetar maturidade e, ao mesmo tempo, dissuadir ações futuras que pudessem prejudicar a economia de seu país.

Essa sempre foi uma corda bamba difícil de ser percorrida pela liderança chinesa, dada a visão consensual de Washington em relação à China hoje em dia.

Três anos depois de iniciada a administração Trump, essa corda começou a balançar. A boa notícia para a China é que o estado futuro das relações EUA-China depende em grande medida de Pequim.

Essa é também a má notícia.​

Tradução de Clara Allain

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.