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Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.

Zelenski e Schwarzenegger são os atores sensatos da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano e ator de Hollywood sabem usar as palavras para atuar no conflito contra a Rússia

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Estranho mundo, esse, em que os atores parecem mais sensatos do que os políticos de carne e osso.

O primeiro ator é Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia. Quando Joe Biden lhe ofereceu uma carona para fugir do país, Zelenski recusou. E respondeu: "Preciso de munição, não de carona".

Parece frase de filme e provavelmente foi escrita por um roteirista, quem sabe o mesmo da sua série de televisão "The Servant of the People", ou servo do povo. Que interessa?

O presidente da Ucrânia Volodimir Zelenski em pôster da série cômica 'Servant of the People', ou servo do povo, em que interpretava justamente o mais alto mandatário de seu país - Divulgação

Em guerra, as palavras contam –e um bom ator conta sempre. Winston Churchill, entre 1940 e 1941, ou seja, entre a tentação de se render e a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, só tinha palavras para oferecer aos ingleses.

Mas Churchill sabia o que as palavras significavam –e, além disso, ele fizera uma aprendizagem dramática como voraz consumidor de teatro.

Jonathan Rose, em "The Literary Churchill: Author, Reader, Actor", explica com minúcia como o Churchill que ficou para a história foi formado pelas peças a que assistiu, pelas peças que leu, pela estrutura dramática que aprendeu com elas.

Isso legou ao velho Winston uma certa "imaginação moral" que foi preciosa para alentar os seus compatriotas na resistência solitária face a Hitler. Como diria o filósofo Isaiah Berlin mais tarde, ele apareceu como "alguém maior e mais nobre do que a vida e os elevou a uma altura anormal num momento de crise".

Existem muitas explicações para o aparente insucesso militar da Rússia na Ucrânia. Mas a feroz resistência dos ucranianos, com que Putin não contava, teria sido bem menor se Zelenski tivesse aceitado a carona de Joe Biden.

Eis o primeiro fosso que foi cavado entre o ator e os políticos ocidentais: o ator entendeu que ainda existe algo por que vale a pena lutar; os segundos talvez preferissem uma rendição rápida e indolor —para eles. A mera ideia de que uma paz injusta pode ser pior do que uma guerra justa já não existe naqueles crânios.

O segundo ator é Arnold Schwarzenegger. Brinco? Não brinco. Basta assistir ao vídeo que ele filmou, dirigido à população russa. Enquanto supostas inteligências ocidentais "cancelam" artistas ou intelectuais russos, contribuindo assim para a narrativa paranoica do Kremlin, parece que Schwarzenegger optou por outro caminho.

Primeiro, fez uma distinção entre o povo russo e o governo de Putin; depois, desconstruiu a propaganda em curso sobre a "desnazificação" da Ucrânia; e, finalmente, dirigiu-se aos soldados russos com a história do seu pai, que marchou pelos nazistas em Leningrado em nome de uma mentira.

Na guerra em curso, ter a população russa como aliada deveria ser a prioridade das democracias ocidentais. Uma evidência que até Conan, o Bárbaro, foi capaz de expressar.

Quando será que os outros bárbaros se juntam a ele?

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