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Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

Para Bolsonaro, talvez uma rainha morta mereça mais atenção que um presidente vivo

Em seu mandato, líder brasileiro não visitou nenhum país de língua portuguesa

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Foi o bulício geral quando o presidente de Portugal foi a Brasília, no passado 7 de Setembro, para as comemorações do bicentenário da Independência e ficou assistindo, ao lado de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, ao desfile na Esplanada dos Ministérios.

Logo muita gente —portugueses e brasileiros— se apressou a detonar o soberano luso. Não se dá ao respeito, vai servir de garoto de propaganda à campanha do incumbente, está sendo manipulado a participar em um comício. O que nem aconteceu.

Existia uma tensão no ar porque, no início de julho, por ocasião da abertura da Bienal do Livro de São Paulo, em que Portugal foi o país homenageado, Bolsonaro, de forma aparentemente deselegante, desconvidou sem aviso prévio o português para um almoço oficial.

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, em desfile militar pelo Bicentenário da Independência, em Brasília - Adriano Machado - 7.set.22/Reuters

Quando descobriu que o português se tinha encontrado com o ex-presidente Lula —então já candidato—, demarcou a agenda com pública acrimônia causando um mini-incidente diplomático, mas sem consequências mais notáveis do que a tinta então derramada nos jornais.

Falatórios à parte, um estadista —mesmo quando se engana— depressa encontra seu lugar; e logo Rebelo de Sousa se apressou a afirmar que os países e as suas relações históricas são sempre mais importantes que os homens que, em um determinado momento, os dirigem. O que é sempre verdade.

O Brasil será sempre maior que Bolsonaro, Temer, Dilma, Lula, FHC, Itamar, Collor, Sarney e por aí em diante até dom Pedro 2º; como Portugal será sempre maior que Rebelo de Sousa, Cavaco Silva, Jorge Sampaio, Mário Soares, Ramalho Eanes e por aí em diante até dom Sancho 1º.

Deixam-se de fora da lista dom Pedro 1º e dom Afonso Henriques porque foi nas suas vidas venturosas que as duas nações se fundaram, o que faz deles tão históricos (mas nem por isso mais importantes) que os seus países. O que não faltam por aí são fundadores mortos de países entretanto desaparecidos.

Pormenores à parte, para a história ficam um presidente português que veio ao Brasil três vezes; e um presidente brasileiro que nunca foi a Portugal, apesar de, logo no dia da tomada de posse (1º de janeiro de 2019), Marcelo tê-lo convidado —"Entre o final de 2019, mais provavelmente princípio de 2020, o presidente Bolsonaro irá eventualmente a Portugal", disse. Mas não foi!

Em todo o seu mandato, o presidente do Brasil não visitou nenhum país de língua portuguesa e, apenas nesta semana, quase quatro anos depois, Jair e Marcelo puderam coexistir brevemente em uma cidade europeia —que não foi Lisboa.

Os dois se deslocaram a Londres, mas para "outra" ocasião histórica: as exéquias da rainha Elizabeth 2ª.

Talvez, para Bolsonaro, uma rainha morta mereça mais atenção que um presidente vivo, mas para Rebelo de Sousa, professor de direito e constitucionalista, um chefe de Estado em exercício —seja ele qual for— tem sempre mais interesse que outro já defunto. Por mais verdadeiramente importante que o morto seja.

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