José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Número de eleitores brasileiros em Portugal antevê possível mudança demográfica

País luso precisa entender suas novas responsabilidades e se preparar para elas

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Saber com exatidão o número de brasileiros que vivem em Portugal não é o mais importante. Como no argumento dos pássaros de Jorge Luis Borges, ele será um número inteiro, mas indemonstrável, porque cresce todos os dias.

O mais importante é compreender que o atual fluxo migratório para Portugal já não é só uma medida estatística, é uma realidade mental. Ir morar em Portugal deixou de ser um sonho e é hoje uma opção natural. Mas os números, mesmo em sua incerteza cotidiana, são importantes, pois ajudam a definir a natureza de um momento histórico.

Pedestres em rua do Porto, em Portugal - Darrin Zammit Lupi - 7.mai.22/Reuters

Nesta semana, pela primeira vez desde que há estatísticas, Lisboa ultrapassou as cidades americanas de Boston e Miami e se tornou o lugar com mais eleitores brasileiros no exterior. Não que esse número seja extraordinário do ponto de vista do universo eleitoral nacional, são "apenas" 45.273 os brasileiros que se qualificam para votar na capital portuguesa. Mas, como em qualquer estatística, ela é apenas compreensível quando comparada com uma realidade conhecida.

Para entender melhor como os portugueses estão sentindo essa nova realidade, façamos uma comparação com o Brasil. Os pouco mais de 10 milhões de cidadãos portugueses (10.361.831 pelos recentes censos lusos de 2021) caberiam todos na cidade de São Paulo —e ainda sobrariam 2 milhões. Isso nos dá a primeira nota.

Se o número total de eleitores brasileiros em Portugal (80.866) estivesse reunido em apenas um município, ele seria o 28º maior colégio eleitoral português entre os 308 que compõem a totalidade do seu território. Há mais votantes brasileiros em Portugal do que votantes portugueses em cidades tão importantes como Aveiro, Santarém, Castelo Branco, Évora, Bragança, Beja e Portalegre, capitais de distrito e que representam mais da metade do território do país ibérico.

Na proporção seria como se em capitais como João Pessoa, Cuiabá, Aracaju, Porto Velho ou Florianópolis apenas existissem portugueses. Algo difícil de imaginar.

Mas sendo incompreensível aos nossos olhos, essa é a realidade para a qual os lusitanos têm que se preparar, com o número crescente de brasileiros que todos os dias aterram em Lisboa e no Porto.

Tomando como certo o previsível crescimento desse dado, espelhado nas recentes medidas das autoridades portuguesas para atrair cidadãos brasileiros, podemos esperar uma presença ainda maior em terras lusas.

Se ele for apenas aritmético, levando em consideração que em relação ao pleito de 2018 a quantidade de brasileiros registrados para votar em Portugal aumentou 113,6%, estamos antevendo uma verdadeira mudança de estrutura demográfica.

Assim, mesmo desconsiderando o impacto dos novos vistos de trabalho e a melhoria na rapidez processual por via da normalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em 2026 o "poder" eleitoral brasileiro estará ao nível de cidades como Braga ou mesmo Cascais.

Para não perder sua atratividade como país-destino, Portugal precisa entender suas novas responsabilidades e se preparar para elas.

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