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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

No futebol, há jogos comuns, ótimos e aqueles para ver de joelhos

Ver Messi jogar é voltar a ser criança, ele está acima dessas coisas prosaicas feitas para os mortais

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​Morava durante os anos 1950/60 onde hoje é o Itaim-Bibi, então chamado Chácara Itaim, com raras ruas asfaltadas.

Principalmente nos belos meses de abril e maio, meu pai, nos fins das tardes, levava os três filhos para jogar futebol nos campos do Grêmio, animado clube de várzea.

O perfume da bola de couro misturado com o da terra permanece até hoje quando saio para caminhar depois das cinco da tarde.

Difícil dizer se o perfume está no ar ou se minha memória o fabrica para amenizar tempos tão mal cheirosos.

O futebol era quase tudo entre os seis, sete e 12, 13 anos.

Algum futebol apenas era diferente de outro.

Por exemplo: quando, normalmente às quartas-feiras à noite, jogavam Santos e Botafogo, Pelé x Mané.

Era tão especial que minha mãe permitia quebrar a rigidez do caçula, eu, ir dormir às 20h, o do meio, meia hora depois, e o mais velho às 21h.

Para jogos do Corinthians não havia tal liberalidade e o jeito era levar o radinho de pilha escondido com o egoísta para não fazer barulho.

Ah, jogos da seleção brasileira também tinham o aval materno, para satisfação do velho que passava a ter companhia e não precisava fazer relatos pormenorizados dos jogos no dia seguinte.

Santos x Botafogo, Santos x Palmeiras, seleção brasileira, todos protagonistas dos tais jogos para ver de joelhos. 

Interrompo as reminiscências para dizer que não direi que não existem mais esses jogos no Brasil.

Lionel Messi cobra a falta que resultou no terceiro gol do Barcelona sobre o Liverpool e o 600 dele pelo clube espanhol - John Sibley/Reuters

Os jogos em regra não decepcionavam, apesar de, às vezes, a expectativa ser maior que o desfrute.

Assim passei os dias que antecederam Barcelona x Liverpool, no Camp Nou.

Assim estou passando em relação ao jogo de volta, em Liverpool, na terça, 7 de maio.

O modo holandês de jogar do Barça sempre me encantou a tal ponto de eu ter de admitir para mim mesmo aquilo que sempre neguei: tenho dois times.

Pior, tenho três: o meu de sempre, o catalão e onde Pep Guardiola estiver.

Ele, por sinal, estava no estádio com seu pai, entre os sócios.

Tudo já foi dito sobre o 3 a 0 que não refletiu o equilíbrio do recital e foi injusto com os ingleses, embora não tenha sido com Lionel Messi.

Ver o Barça encolhido em seu campo, obrigado a abrir mão do talento de Arthur pelo vigor de Vidal, a até dar chutão, ficar menos com a bola, lembrou Éder Jofre.

O melhor peso galo da história do boxe mundial, quando era levado para o canto do ringue, espremido entre as cordas, sempre achava uma saída, invariavelmente o soco na ponta do queixo do rival para levá-lo à lona.

Assim fez o Barça para abrir o placar e depois não depender de tática alguma, esquema nenhum, porque Messi está acima dessas coisas prosaicas feitas para os mortais.

Ver o argentino é voltar a ser criança.

De tudo o dito, e bem dito, sobre a epopeia da semana passada, um aspecto relevante acho que passou despercebido, ou apenas falhei em não observar quem o tenha realçado: tão logo Messi fez o gol de falta, o do 3 a 0, uma imagem piscou muito rapidamente na TV; alguém abria um sorriso largo, generoso, resignado, admirado. 

O dono do sorriso é alemão, se chama Jürgen Klopp e é o técnico do Liverpool.

Homenagem maior Messi não poderia receber.

Meu pai também era assim, capaz de aplaudir as façanhas dos rivais.

Desculpe pela nostalgia.

O pior melhor

Neymar é o pior melhor jogador brasileiro de todos os tempos.

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