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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Está na hora de promovermos o fim do jogo burocrático

Quem pode sacudir nosso futebol bolorento como aconteceu com a arte na Semana de 1922?

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Será por acaso que os dois líderes do Campeonato Brasileiro são comandados por treinadores estrangeiros?

Um com belo elenco, outro nem por isso? Será acidental que tanto as filosofias de jogo do lusitano quanto a do hermano privilegiem a posse de bola vertical, a rapidez na transição, a compactação das linhas e a marcação na saída de bola do adversário, além do drible?

Por que raios outro elenco milionário como o do Palmeiras, ou mais pobre como o do Corinthians, terceiro e quarto colocados, são incapazes de brilhar?

Como explicar que, de repente, é melhor ver o futebol senegalês que o nosso? 

O que Mané tem que Cebolinha, no banco, não tem?

Houve um momento, nas eliminatórias para a Copa na Rússia, em que a rara leitora e o raro leitor cansaram de ler aqui o tratamento dado à seleção brasileira como um time sem nada a ver com o futebol de nossos clubes, tal a excelência obtida por Tite.

Eis que em dois anos o quadro se inverteu: é muito mais agradável ver o Flamengo, o Santos, o Grêmio e o Athletico do que ver o time da CBF.

Que, mesmo assim, está em terceiro lugar no ranking da Fifa, atrás apenas da Bélgica e da França, porque o resultadismo dá nisso.

Não bastasse a maneira burocrática de se comportar em campo, fora dele os gananciosos cartolas da Casa Bandida submetem a equipe a fusos horários desumanos, a gramados impensáveis, em condições climáticas abusivas.

Tite tem toda razão ao reclamar, mas não tem nenhuma.

Porque sabia exatamente onde e com quem estava se metendo. Agora se submete ao desgaste de conviver com os que um dia quis ver pelas costas, ao assinar manifesto pedindo democracia na CBF.

Haverá um Di Cavalcanti, Mário ou Oswald de Andrade, Francisco Rebolo, Heitor Villa-Lobos, ou uma Anita Malfatti e Guiomar Novaes, para sacudir nosso bolorento futebol como feito com a arte na Semana de 22?

Futebol é cultura: embora os Andrades não fossem chegados ao ludopédio, Rebolo não só desenhou o distintivo do Corinthians, em 1933, como defendeu o clube na ponta-direita e foi campeão do Centenário da Independência, em 1922.

Estamos necessitando de ousadia, aquela, justiça seja feita, implantada também por Renato Portaluppi, no Grêmio.

Porque está chato, muito chato ver a seleção ou o Palmeiras, para não falar dos demais times de clubes, ressalvados os já citados.

A cada jogo o capital acumulado pelo futebol pentacampeão mundial se esvai entre os dedos dos pés banalizados pela CBF, a ponto de atraírem apenas 20 mil torcedores ao estádio Nacional de Singapura, com capacidade para 55 mil pessoas.

Mais do que grave, é chata a crise.

E não pelos empates com a Colômbia e Senegal ou pela derrota para o Peru.

Porque, como disse Tite, temos dificuldades ao enfrentar africanos e europeus --além dos, acrescentemos, sul e norte-americanos, asiáticos, oceânicos e indígenas.

Porque ficamos para trás, atropelados por novas formas de gerir o futebol, por trabalhos na base, por filosofias de jogo e pelo calendário mundial.

Precisamos fazer uma revolução e não será com o que está aí. Que expectativa há para o jogo desta manhã de domingo (13), contra Nigéria, outra vez no péssimo gramado de Singapura?

Ou para o Majestoso da tarde, no Morumbi?

Só a do que resultará nas posições dos times na tábua de classificação?

É pouco. Muito pouco. Queremos futebol.

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