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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Protetores de Trump e Bolsonaro não calcularam o custo da servidão

Não há como promover reconciliação sem expor as hordas de facilitadores do golpismo violento

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Não é um grupo homogêneo. Há os lambe-botas convictos, os oportunistas espertos e os medíocres terminais. Podem ser generais mercenários, educados em escolas de elite, que juraram respeitar a Constituição mas preferiram enxovalhar a reputação das Forças Armadas. Ou mercadores lucrando com a criminalidade sem precedentes, implementada tanto pelo empresário nova-iorquino como por seu grotesco clone carioca.

Os americanos assistem, afinal, a um inventário coerente da Presidência mais corrupta da república.

Na terça (12), a sétima audiência pública do comitê que investiga o 6 de Janeiro teve depoimentos de trumpistas arrependidos. É impossível negar a importância das audiências, num país onde 70% dos que votam no Partido Republicano continuam certos de que Donald Trump venceu a eleição de 2020.

Apoiadores do então presidente Donald Trump invadem o Congresso dos EUA em janeiro de 2021 - Alex Edelman/AFP

Todas as testemunhas interrogadas pelo comitê são republicanas e várias foram leais ao ex-presidente até a invasão do Capitólio, o que torna mais difícil vender a história de que a investigação na Câmara é só um circo de propaganda dos democratas.

Na última audiência, Jason Van Tatenhove, ex-porta-voz dos Oath Keepers —uma das milícias de nacionalistas brancos que organizaram o ataque ao Capitólio, depois de Trump convocar apoiadores em dezembro num tuíte— disse: "Vamos parar de falar em rodeios. O 6 de Janeiro foi planejado como uma revolução armada".

Ao seu lado, Stephen Ayres, que já foi declarado culpado por participar da invasão e pode pegar um ano de cadeia, afirmou que estava seguindo a convocação do então presidente derrotado. Ao final da audiência, Ayres se dirigiu até um grupo de policiais que foram espancados e feridos no 6 de Janeiro e pediu perdão.

Ninguém espera arrependimento dos dois monstros, o da Flórida e o de Brasília. Mas não há como promover reconciliação sem expor as hordas de facilitadores do golpismo violento. Dois novos livros servem de bússola para o balanço que ainda deve ser feito no Brasil. Ambos são radiografias, em prosa excelente, dos que tornaram possível a eleição e a Presidência de Trump.

Tim Miller publicou "Why We Did it: A Travelogue from the Republican Road to Hell" (por que fizemos o que fizemos: um diário de viagem da estrada republicana para o inferno). Ele era um jagunço de aluguel, procurando sujeira sobre adversários do ex-governador da Flórida e pré-candidato republicano Jeb Bush, em 2016. É também um homem gay, casado e com uma filha adotada, que justificava a plataforma homofóbica do partido.

Testemunhos como o de Miller têm valor especial por mapear a hipocrisia conservadora. Ele criou uma classificação para diferentes graus de apoio ao trumpismo e entrevistou os espécimes que foram protagonistas dos anos Trump, expondo argumentos repulsivos. Seu livro demole a falácia sobre a importância de ficar no palácio para ser a voz da razão soprando conselhos no ouvido do autocrata. Os extremistas, ele conclui, se tornaram o rabo que hoje abana o cachorro do establishment republicano.

No outro livro, "Thank You for Your Servitude: Donald Trump’s Washington and the Price of Submission" (obrigado pela servidão: a Washington de Donald Trump e o preço da submissão), o veterano repórter político Mark Leibovich faz a contabilidade espantosa da transformação de republicanos conservadores em soldados de um culto mafioso.

A prisão espera alguns habitantes da trumposfera. Eles não calcularam o risco da servidão.

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