Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.
'Schitt's Creek' faz humor universal ao opor diferenças sem ofender
Sucesso da série é tardio; assistir a ela, porém, parece um reencontro com um tempo em que era mais fácil rir da vida
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Há não muito tempo as séries não chegavam com estrondo, as pessoas não viravam noites para esgotar temporadas em dias e não era preciso ter opinião formada sobre sua importância cultural logo de cara. Grandes sitcoms, como “Seinfeld” e “The Office”, chegaram assim, discretamente, até arrebatarem um lugar definitivo na cultura pop, eternizadas.
“Schitt’s Creek”, a série que fez muita gente se perguntar “o quê?” ao arrebatar a premiação do Emmy de 2020 e agora novamente as indicações para o Globo de Ouro, na semana passada, parece uma representante tardia dessa categoria, o tipo de comédia que, embora com menos louvor do que as duas citadas, nos traz conforto ao ver, não importa a ordem dos episódios, não importa o momento.
É, afinal, a receita-base do gênero: diálogos muito afiados, um grupo de bons atores e comediantes que se torna ótimo quando em conjunto e personagens universais.
A obra do veterano ator canadense Eugeny Levy (mais lembrado como o pai do protagonista na pérola pop “American Pie”) e seu filho Dan Levy não inventou a roda —trata-se da recontada história da família pouco funcional que se vê obrigada a se adaptar a uma realidade alheia.
Sua parente mais próxima é, sem dúvida, a acérbica “Arrested Development”, protagonizada por uma família rica cujo patriarca é preso e na qual ninguém, exceto um dos filhos, parece capaz de
fazer alguma coisa produtiva.
Aqui, são os Rose —Johnny (Levy pai), Moira (Catherine O’Hara, de “Esqueceram de Mim”), Daniel (Levy filho) e Alexis (Annie Murphy)— que são pegos pelo fisco e perdem tudo. A única coisa que lhes resta é a cidadezinha que dá nome à série, a qual o pai comprou como piada para presentear o filho e
para onde a trupe se muda, sem escalas, após deixar a sua mansão em Nova York.
O pai é um empresário do audiovisual agora falido, a mãe uma atriz cujo sucesso já está quase esquecido e os filhos, adultos, dois inúteis desinteressados da vida familiar.
O choque produzido por sua chegada à pequena cidade, à la primo rico e primo pobre, poderia passar como uma piada envelhecida se não fosse a tensão cultural que fermentou nos Estados Unidos das últimas décadas entre a elite costeira e o americano do interior, sobretudo os dos lugares menos desenvolvidos que se convencionou chamar de “América profunda” por um lado ou “América real” por outro —divisão sempre bem explorada pelos políticos.
Esse caldo, e o fato de todos os personagens terem traços risíveis, sem que ninguém seja mau ou bom, serve como espelho exagerado para o público. Além do elenco central, agora premiado, o prefeito bronco feito por Chris Elliot (“Dia da Marmota”) brilha.
O sucesso de “Schitt’s Creek” é tardio, e muitos (esta colunista inclusa) só foram conhecê-la após a avalanche de prêmios para sua sexta temporada, a derradeira. Assistir a ela, porém, parece um reencontro com um tempo em que era mais fácil rir da vida.
As seis temporadas (80 episódios) de ‘Schitt’s Creek’ estão disponíveis na Amazon Video, pelo canal Paramount, e no UOL Play
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