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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'The Chair', com Sandra Oh, apresenta ambição que não faz crítica nem graça

Série tenta fazer comentários sobre era do cancelamento, mas o tema não é tão caricato quanto propõe

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Há muitas séries possíveis dentro de "The Chair", empreitada da Netflix que marca a estreia da atriz Amanda Peet, mais conhecida por comédias românticas como "De Repente, Amor", como roteirista e produtora. A ambição de consolidá-las todas em seis episódios de 30 minutos acaba fazendo com que muito se perca no caminho, deixando o espectador desorientado.

O carisma de Sandra Oh é o arrimo da produção e, durante a maior parte do tempo, suficiente para que o tempo passe de maneira agradável. Como a primeira mulher —e não branca— a chefiar o prestigioso departamento de língua inglesa de uma fictícia universidade de alto nível, ela conjuga ternura e acidez na única personagem que supera os tons de caricatura.

A protagonista Kim Ji-yoon deixa, contudo, espaço para que ela chegue às mesmas nuances de uma Cristina Yang ou de uma Ece Polastri, que a tornaram uma estrela em "Grey's Anatomy" e "Killing Eve". Arredia e hesitante, ela passa de mulher determinada que cria uma filha, dirige um departamento acadêmico e inspira estudantes a mocinha que cede ao "amor".

De supetão, a série vai do clichê da mulher de sucesso profissional solitária (?) ao da que se torna cuidadora e abnegada. Como se apenas fosse possível uma coisa ou outra.

O melhor seria se "The Chair" se concentrasse na crítica ferina ao meio acadêmico e seu ringue de vaidades, terreno promissor para o drama. Mas ela se prende em um conflito raso entre jovens e velhos, como se fossem sinônimos de novo e superado.

A coisa que a série mais tenta desesperadamente ser é um comentário sobre a era do cancelamento. Embora oportuno, isso é abordado de forma trivial: um dia, o colega e melhor amigo de Ji-yoon, o professor-estrela Bill —Jay Duplass, de "Transparent"—, adolescente tardio, é filmado por alunos fazendo um gesto que remete à saudação nazista em sala de aula.

Logo a cena viraliza, e Bill é reduzido a "nazista". Daí se desenrola uma caça às bruxas com pretensas lições de moral, à qual o reitor pateta —David Morse, de "Dançando no Escuro"— assiste inerte, preocupado com as minguantes inscrições de alunos e o esvaziamento do caixa da instituição.

Por ridícula que seja a prática do cancelamento, ela não se dá em termos tão caricatos e maniqueístas como a produção propõe, e, ainda que o humor viva de exageros, os roteiristas não conseguiram extrair graça da situação.

Há alguns momentos de brilho. Boa parte deles se devem a Holland Taylor —que brilhou recentemente na morna "Hollywood"—, como Jean, a professora veterana que se recusa a deixar que seu status se esvaia. Outros, a uma hilária participação de David Duchovny, agora romancista —sim, é fato—, como professor convidado para atrair alunos.

As universidades, especialmente as americanas, são um mundo paralelo e oferecem idiossincrasias mais interessantes a explorar. "The Chair" consegue apenas citá-las, como um aceno que deixa o resto no ar.

Os seis episódios de 'The Chair' estão disponíveis na Netflix

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