Idealizador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Graduado em administração de empresas pela FADERGS
Olimpíadas de Tóquio mostram diversidade e inclusão
Coragem de Paulinho em falar de Oxóssi, Iemanjá e Exu precisa ser valorizada
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Os Jogos Olímpicos de Tóquio nesta primeira semana estão chamando a atenção pelos manifestos e posicionamentos em prol da diversidade. A começar pela defesa da igualdade de gênero.
Nesta edição, segundo o site OutSports, são ao menos 160 atletas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer e não binários assumidos. As duas anteriores, Rio-2016 e Londres-2012, somaram 79.
E a busca por diversidade e respeito inclui o posicionamento contra a sexualização das mulheres, encampado pelas ginastas alemãs que abandonaram collants e usaram calças em manifesto impulsionado pela multa que a Federação Europeia de Handebol aplicou à seleção norueguesa, cujas atletas se negaram a usar o uniforme com top e biquíni. Na ginástica, o uso de vestimenta de corpo inteiro, conhecida pelo termo em inglês "full body suit", não é proibido.
Atletas brasileiros também estão usando os Jogos para transmitirem importantes mensagens. Podemos começar com Rayssa Leal, skatista que se tornou a medalhista brasileira mais jovem da história —entre homens e mulheres. A Fadinha, como é conhecida, é um magnífico exemplo para tantas outras meninas num esporte que nos anos 1980 chegou a ser proibido na cidade de São Paulo.
Outra importante manifestação aconteceu na apresentação da ginasta Rebeca Andrade, que se apresentou ao som de “Baile de Favela”, canção de MC João. Após a apresentação, a atleta disse: “A música é a minha cara. É a cara do Brasil”. E o funk que Rebeca escolheu é uma música marginalizada no Brasil, país tão rico em diversidade, mas que teima em marginalizar a cultura popular.
A apresentação de Rebeca traz à tona as brasilidades, esse campo simbólico de elaboração de mundo que tensiona o Brasil oficial que não enxerga a periferia, a favela e a comunidade como uma potência.
O funk, assim como o rap, tem na sua raiz a denúncia social. E ao falarmos de cultura, protesto, exemplo, diversidade e inspiração não podemos esquecer de Paulinho, atleta da seleção brasileira de futebol que vem quebrando paradigmas ao pedir o fim da desigualdade e ao falar sobre as religiões de matriz africana.
Aliás, “religião, não, filosofia de vida”, como pontuou o filho de Oxóssi e Iemanjá em carta publicada no Players' Tribune, site no qual fez um forte desabafo sobre as desigualdades sociais que assolam o Brasil.
Paulinho comemorou seu gol contra a Alemanha com o gesto de simular a flechada, uma homenagem a Oxóssi, o caçador que com apenas uma flecha conseguiu acertar o peito de um pássaro que tinha sido enviado por algumas feiticeiras para trazer a fome e a miséria para o Rei, segundo a mitologia Yorubá.
A coragem de Paulinho em falar de Oxóssi, Iemanjá e Exu em um país marcado pelo racismo religioso precisa ser valorizada, afinal, no Brasil, terreiros são destruídos e queimados, filhos de santo precisam esconder sua roupa branca tamanho o preconceito e a intolerância religiosa. Paulinho é uma potente voz que fala de respeito, inclusão e diversidade, marca dos Jogos de Tóquio. “Okê! Arô! Odé!”
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