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Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

Iniciativa popular na Califórnia quer destinar US$ 5 bilhões a psicodélicos

Eleitores propõem turbinar pesquisa com psilocibina e outros alteradores de consciência

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A Califórnia ficou associada com o uso de psicodélicos no Verão do Amor de 1967, quando uns 100 mil hippies convergiram ao bairro de Haight-Ashbury. Está de novo na boca para consagrá-los, desta vez com algo mais que paz e amor: ciência, compaixão e muita grana.

Surgiu no estado da Costa Oeste dos EUA uma iniciativa popular, Treat California, para obrigar o governo a investir US$ 5 bilhões (R$ 25,7 bilhões) na pesquisa clínica com MDMA, psilocibina, dimetiltriptamina (a DMT da ayahuasca), LSD, mescalina e ibogaína.

Para o referendo constar na cédula da eleição de 2024, a iniciativa Treat precisa coletar no mínimo 875 mil assinaturas até abril do ano que vem. A organização fixou como meta 1 milhão de signatários ainda neste ano, para dar tempo de levantar fundos e convencer eleitores.

Terapia psicodélica: em breve, uma realidade? - Reprodução / Pixabay

À frente da iniciativa se acha a médica Jeannie Fontana, e ela não é novata nessa área. Fez parte da Iniciativa de Pesquisa e Curas com Células-Tronco que, duas décadas atrás, arrebanhou 59% dos votos, destinou US$ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões) para estudos e criou o Instituto da Califórnia para Medicina Regenerativa.

O Cirm (na sigla em inglês) conta hoje com US$ 8,5 bilhões (R$ 44 bilhões; em 2023 o governo federal brasileiro destinou R$ 16 bilhões para a área de ciência e tecnologia). Fontana, que se interessou pelo tema após a mãe sofrer com esclerose lateral amiotrófica, integrou o primeiro conselho curador do instituto.

A médica se volta agora, na companhia de um time de militantes que inclui três oficiais generais, para o potencial terapêutico de substâncias psicodélicas. As mais próximas de se tornarem fármacos facilitadores de psicoterapia são MDMA (ecstasy), para estresse pós-traumático, e psilocibina de cogumelos "mágicos", para depressão.

Fontana participou quarta-feira (4) do podcast de Sam Harris, neurocientista e autor best seller conhecido por sua visão crítica da religião. O outro entrevistado foi Robin Carhart-Harris, um dos nomes mais célebres da ciência psicodélica por seu trabalho no Imperial College de Londres, de onde se mudou para a Universidade da Califórnia em São Francisco.

No programa, ela discorreu sobre a crise de saúde mental que assola o mundo e sobre a necessidade de, por compaixão, acelerar a pesquisa com substâncias alteradoras da consciência. Disse que ficou chocada ao saber que suicídio é uma das principais causas de morte de bombeiros e profissionais de saúde.

Entre veteranos de guerra americanos houve 6.146 suicídios em 2020, ou 17 por dia. A taxa ajustada é 31,7 por 100 mil, o dobro da média dos EUA, 16,1 por 100 mil. Sofrem ou sofreram com estresse pós-traumático mais de 1 milhão de ex-combatentes nas muitas guerras em que se meteu a potência imperialista.

Variedade tucunacá do cipó-mariri (Banisteriopsis caapi) usado para fazer ayahuasca - Divulgação/Inpa/UDV

Fontana defende que parte dos fundos eventualmente destinados à pesquisa psicodélica financie estudos clínicos sobre o uso cerimonial ou coletivo de substâncias como psilocibina e DMT. Cogumelos e ayahuasca são usados assim há séculos por povos tradicionais do México e da Amazônia, além de religiões urbanas brasileiras como Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha.

Na próxima semana, o governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, terá de decidir se sanciona ou não uma lei descriminalizando o porte de pequenas quantidades de psilocibina de cogumelos, DMT (ayahuasca), ibogaína e mescalina (com exceção do cacto peiote in natura) por de maiores de 21 anos. A legislação já foi aprovada nas duas casas do Legislativo californiano.

Enquanto isso, o Congresso brasileiro cogita constitucionalizar como crime a posse de qualquer quantidade de qualquer droga hoje ilícita. Haja atraso.

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