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Psicanalista e ensaísta, com pós-graduação pela Universidade de Paris 8 e FFLCH/USP. Autora de "Lupa da Alma" e "Coisa de Menina?".

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Faroeste Brasil

Nessas eleições, chegamos ao ápice do faroeste bala na agulha e na cara do outro

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Os últimos anos não têm sido fáceis para nossa pobre nação. Mas foram nestas inesquecíveis eleições de 2022 que chegamos ao ápice do faroeste bala na agulha e na cara do outro.

Um dos políticos mais corruptos da história tinha pouco a perder e arriscou: saiu atirando contra a polícia. Cena performática.

A deputada reeleita (!), além de ter sido feminista radical e hoje ser ultraconservadora e espalhar um monte de mentira, sai na rua de arma na mão. Perseguia um corpo negro no suposto território branco e dizem que o significante vagabunda veio inflamar o palco.

Outros bloqueiam estradas e pedem intervenção federal, militar, transcendental. Quero que alguma "autoridade" forte, quem sabe um mito ou um militar, qualquer coisa, me pegue no colo e me conduza. Afinal, o mundo está muito difícil de navegar. Pai, não me abandone.

Em várias escolas de ‘elite’ de províncias enricadas, alunos —supremos e mimados— fazem bullying e mandam logo uma suástica para mostrar que sabem desde crianças que são e serão para sempre inimputáveis.

O cara do que talvez já tenha sido um belo horizonte sai atirando para matar. A pressão dos afetos é tamanha que a gente não aguenta ver os outros comemorando vitória. Isso joga na cara a sua derrota e bota seu lugar narcísico imaginário no lixo.

O outro fica tão fora de si que sai atropelando. Bota vários no hospital. Sobre cantar hino diante de pneu, rezar diante da imagem de um falso messias e se atracar a um caminhão em movimento, eu pulo.

Enfim, sinto muito me repetir, mas o Brasil está doente, como estou falando há anos e em entrevista aqui mesmo. Ou, como diria de forma mais elegante João Cezar de Castro Rocha: "o Brasil é um laboratório mundial de criação metódica de realidade paralela", em franco processo de dissonância cognitiva coletiva.

Alô alô Brasil Paralelo. Lady Gaga, Stefani Germanotta, primeira-ministra do Tribunal de Haia, a corte penal internacional, já está julgando os crimes em vigência no Brasil e logo vai demonstrar a fraude eleitoral. O juiz vilão, ministro do tribunal vilão, foi preso. "Informações" repassadas e aplaudidas com lágrimas.

Quanto ao presidente em exercício, não sabe muito bem o que fazer agora para achar uma rota de fuga além de se retirar e aguardar uma onda de amor e violência em seu nome (#golpe).

Ele leu um discurso que usa palavras como "jogo democrático" e as pobres "quatro linhas da constituição" para de fato pedir #golpe. (E, jesuis amado, como Jair lê mal! Não estou nem pedindo para entender ou escrever o que lê. Estou convicta de que se soubesse ler melhor, tivesse uma semaninha a mais para a fake-campanha e não tivesse amigos tão malucos talvez tivesse levado essa eleição.)

Pergunta crucial: até quando vamos passar pano para todas essas formas de loucura, crime e violência?

Estes dias teve aqui em Havard o filme "Argentina, 1985", de Santiago Mitre, e debate com a presença de um dos protagonistas da história real, Luis Moreno Ocampo, o jovem procurador. Como falei em público nesse dia, eles tiveram a coragem que nós não tivemos de fazer a coisa certa: escutar, julgar e condenar os crimes que o Estado realizou durante a ditadura.

Sem elaboração, estamos fadados à contínua repetição da pulsão de morte e à delirante demanda por violência para nos salvar do caos (e da violência). No Brasil, temos muito medo de olhar a verdade no olho e continuamos sendo covardes.

Chega de passar pano pois ele já está imundo. Depois, Ocampo foi trabalhar no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Espero que encaminhemos todos os processos necessários, em nível doméstico e global, e que não percamos essa chance novamente.

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