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Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

Descrição de chapéu The New York Times

Aprendendo a viver com a baixa fecundidade nacional

Uma economia com a população estabilizada precisa de políticas públicas diferentes daquelas da geração baby-boom

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The New York Times

Na semana passada o Bureau de Estatísticas do Trabalho divulgou uma inflação muito mais alta do que quase todo mundo previa, e os inflacionistas —pessoas que sempre preveem aumentos de preços disparados, e sempre estão erradas— aproveitaram a notícia como prova de que desta vez o lobo é real.

Os mercados financeiros, porém, levaram a coisa com tranquilidade. As ações caíram após o relatório, mas logo compensaram a maior parte das perdas. O rendimento dos títulos aumentou ligeiramente com a notícia, depois terminou a semana exatamente onde começou —extremamente baixo.

Por que tão pouca reação à notícia da inflação? Parte da resposta, supostamente, foi que quando os investidores tiveram tempo para digerir os detalhes perceberam que havia poucos sinais de aumento da inflação subjacente; esta era uma pequena bolha refletindo provavelmente aumentos isolados dos preços de carros usados e quartos de hotel.

Pedestres caminham na Times Square, em Nova York - Wang Ying - 10.nov.2020/Xinhua

Além disso, porém, está o que eu creio ser a percepção de que enquanto alcançamos um sucesso dramático, quase milagroso, em derrotar a Covid-19, quando a pandemia passar nós provavelmente estaremos em um ambiente de baixas taxas de juros sustentadas em consequência da fraca demanda por investimentos. E o maior motivo para esse ambiente de taxas baixas é a forte queda da fecundidade, o que implica crescimento lento ou negativo no número de americanos na idade ativa mais proveitosa.

Esse não é um assunto novo. O relatório do censo no mês passado mostrando o menor crescimento da população dos Estados Unidos desde os anos 1930 só confirmou o que todo mundo que estuda o assunto já sabia. E os EUA chegam relativamente atrasados a essa festa. A população em idade ativa do Japão vem diminuindo desde meados dos anos 1990. A zona do euro está em queda desde 2009. Até a China começa a parecer com o Japão, um legado de sua política do filho único.

A população estagnada ou em declínio é um grande problema econômico? Não precisa ser. Na verdade, em um mundo de recursos limitados e grandes problemas ambientais há argumentos a favor de uma redução da pressão populacional. Mas precisamos pensar nas políticas de modo diferente em uma economia com população estabilizada do que pensávamos no tempo em que a geração baby-boom amadureceu e rapidamente inchou a força de trabalho potencial.

Está bem, deixe-me admitir que há um problema real: uma população que envelhece significa menos trabalhadores ativos por aposentado, o que levanta alguns problemas fiscais. Mas esse problema é muitas vezes exagerado. Lembre-se de todo o pânico sobre como a Seguridade Social não conseguiria sobreviver ao peso dos aposentados da geração do pós-guerra? Bem, muitos deles já se aposentaram; em 2025, a maior parte do crescimento no número de beneficiários por trabalhador causado pela aposentadoria dessa geração já terá ocorrido. Mas não há crise.

Há, entretanto, uma questão diferente com o baixo crescimento da população. Para manter o pleno emprego, uma economia de mercado precisa convencer as empresas a investir todo o dinheiro que as famílias querem poupar. Mas grande parte da demanda por investimentos é conduzida pelo crescimento populacional, conforme novas famílias precisam de novas casas, novos trabalhadores demandam a construção de novos prédios de escritórios e fábricas, e assim por diante.

Então o baixo crescimento da população pode causar uma fraqueza de gastos persistente, fenômeno diagnosticado em 1938 pelo economista Alvin Hansen, que estranhamente o chamou de "estagnação secular". O termo e conceito foram reanimados recentemente por Larry Summers, e nessa questão acho que ele tem razão.

A estagnação secular pode ser um problema, porque se as taxas de juros são muito baixas mesmo em bons tempos não há muito espaço para o Fed cortar as taxas durante as recessões. Mas um mundo com taxas de juros baixas também pode oferecer grandes oportunidades em políticas —se nos dispusermos a pensar com clareza.

Pois o que estamos vendo aqui é um mundo inundado de poupança sem ter para onde ir: as famílias estão ávidas para emprestar dinheiro, mas as empresas não veem boas oportunidades de investimento. (Bitcoins não contam.)

Bem, por que não colocar o dinheiro para trabalhar para o bem público? Por que não emprestar barato e usar os fundos para reconstruir nossa infraestrutura em ruínas, investir na saúde e na educação de nossas crianças, e mais? Isso seria bom para nossa sociedade, bom para o futuro e também forneceria um amortecedor contra futuras recessões.

E o peso da dívida?, você pergunta. Bem, a dívida federal como porcentagem do PIB é o dobro da que era em 1990, mas os pagamentos de juros sobre a dívida são apenas a metade, aproximadamente. É isso o que fazem os baixos custos dos empréstimos —em geral um subproduto da estagnação demográfica.

Então, as propostas do governo Biden para a infraestrutura e a família são o tipo de coisa que eu tenho em mente? Elas são um passo gratificante na direção certa. Mas não são tão ambiciosas quanto são retratadas em geral, e no meu entender são responsáveis demais do ponto de vista fiscal —o governo está excessivamente preocupado com pagar por seus planos.

O fato é que, gostem ou não, nós vamos viver por muito tempo com um crescimento populacional lento. E precisamos começar a pensar em políticas econômicas levando em conta essa realidade.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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