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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Seleção brasileira não perdeu vocação pelo ataque, mas ganhou rivais

Não se suporta ideia de que globalização tenha aumentado número de grandes times

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Estudo feito pelo portal de estatísticas Footstats, organizado por José Eduardo Romanini, comparou o Brasil nas três Copas do Mundo vencidas desde 1970. Também nas derrotas de 1982, 2014 e 2018. Há surpresas incríveis, como o fato de o time de Zagallo, no México, ter desarmado mais do que o de Tite, na Rússia.

O que mais recuperou a bola foi o de Parreira, em 1994, mas também é surpreendente que seja o de mais desarmes no campo de ataque. Parreira era obsessivo pela posse, nunca pela pressão. Quando perdia a bola, recuava.

Sempre é importante considerar que o Brasil de Tite jogou melhor nas eliminatórias do que na Copa do Mundo. Ou seja, os números na Rússia não indicam o que a seleção é capaz de fazer. Indica o que fez nos dias de Mundial.

Desarmar menos, no caso do Brasil de 2018, tem a ver com a posse de bola. Das seis Copas estudadas, a seleção só teve mais controle do jogo pela troca de passes em 1970 e 1994. Passou 57% do tempo com a bola no pé, na Rússia, mais do que na Espanha, em 1982. Se tem mais tempo com a bola, fará menos desarmes. É matemática.

Tite teve o cuidado de corrigir a versão original do estudo, que indicava 45% de posse para o Brasil, na Rússia. Entregou os dados a seus analistas de desempenho, que tinham razão na correção. Dos cinco jogos entre Rostov e Kazan, o Brasil só teve menos controle da bola contra o México, e mesmo assim com 49%.

Foi superior nesse critério contra Suíça, Costa Rica, Sérvia e Bélgica. E chutou mais a gol em todos os jogos.

Neymar marca nas oitavas de final da Copa de 2018, contra o México - Carlos Garcia Rawlins - 2.jul.18/Reuters

O Brasil segue sabendo e gostando de jogar. Contra a Bélgica, perdeu por 2 a 1, mas finalizou 26 vezes, contra 8 dos belgas. Em média, em 2018 chutou-se mais a gol do que nos títulos de 1994 e 2002, menos do que em 1970 e 1982. Mas a pontaria com Tite era melhor do que com Telê. A seleção na Rússia acertou o alvo em média 8,6 vezes, e na Espanha, 7,4.

Discute-se a quantidade de protagonistas brasileiros, de jogadores que decidem em clubes europeus. Parece ser só Neymar. Alexandre Lozetti, do SporTV, já observou que a Argentina tem Messi e Agüero, referências de Barcelona e Manchester City, mas não ganha nenhum título desde 1993.

O Brasil não perdeu a vocação pelo ataque, nem os craques capazes de serem decisivos. Ganhou rivais.

Todo o mundo previu que o número de grandes seleções seria maior no basquete quando os países do leste europeu se dividiram. Explica-se nosso declínio no esporte da cesta.

Todo o mundo aceita a queda dos asiáticos, russos, poloneses e búlgaros para que o Brasil virasse potência no vôlei. Mas nunca se suporta a ideia de que a globalização tenha feito crescer o número de grandes seleções no futebol.

Ora, se Modric é croata e treina no Real Madrid com Casemiro e sob o comando de Zidane, se De Bruyne é belga e trabalha com Guardiola e Gabriel Jesus no Manchester City, é óbvio que brasileiros, croatas e belgas têm acesso aos mesmos treinos, técnicas e conhecimentos.

Isso se espalha pelo planeta e só não foi não foi tão rápido quanto o vírus.

Hoje é possível pensar em Holanda, Portugal, Bélgica, Croácia, eventualmente numa seleção africana, como candidatas ao título mundial. A surpresa diminuiu entre os clubes da Europa. Aumentou entre as seleções. Razão para a Itália, campeã do mundo de 2006, nunca mais ter passado da fase de grupos e ficado fora da Copa da Rússia.

O Brasil ainda não passou por essa praga. Se cuidar dos detalhes, pode voltar a ser campeão.

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