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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

A fala da múmia

Proponho que, ao morrer, Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro sejam embalsamados

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A Universidade de Londres acaba de realizar uma façanha: “devolveu” a fala a um sacerdote egípcio morto e embalsamado há 3.000 anos. O religioso se chamava Nesyamun e, como se lê nas inscrições em seu sarcófago, não queria que a morte interrompesse seu diálogo com os deuses. A atual falta de deuses não impediu que os cientistas o fizessem “falar”, usando técnicas nunca até então tentadas.

O trabalho consistiu em criar uma versão em 3D do espaço entre a boca e a garganta de Nesyamun, aplicar-lhe uma laringe eletrônica e gerar uma onda sonora que, passando pelo seu trato vocal, criasse um som compatível com os que este emitia. Parece simples, mas a operação levou três anos, envolveu tomógrafos, sintetizadores e 3Ds de última geração e só foi possível porque o trato vocal de Nesyamun continuou intacto através dos milênios. 

E o que ele disse para os cientistas? Nada de mais —apenas sons de “a” e “e”. Mas isto já é revolucionário. Os britânicos confiam em que logo poderão extrair palavras inteiras de Nesyamun, talvez frases, conceitos, narrativas complexas. Todo um passado perdido virá à tona. Empolgado pela notícia, atrevo-me desde já a sugerir que nossos presidentes vivos —Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e, agora, Bolsonaro— também sejam escrupulosamente mumificados ao morrer para que, um dia, possamos arrancar deles a verdade sobre seus governos.

E que verdades! Licitações fraudadas, compra de votos, privatizações viciadas, estelionato eleitoral, obstrução da Justiça, mensalão, sítios, tríplexes, lavagem de dinheiro, peculato, formação de quadrilha, petrolão, pedaladas fiscais, propinas, déficit público, superfaturamentos, malas de dinheiro, compra de sentenças, rachadinhas, laranjas, associação com milícias, prática da filhocracia, cultura da impunidade.

Suas múmias serão arquivos vivos dessas especialidades, cultivadas por eles em nome do Brasil.

Múmia de Nesyamun antes de ser submetida a tomografia - Leeds Teaching Hospitals/Leeds Museums and Galleries/The New York Times

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