Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

O culpado final

Atos provocados por uma única pessoa podem influir na vida de milhões

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

No dia 28 de junho de 1914, nacionalistas sérvios comandados pelo terrorista Gavrilo Princip mataram a tiros o príncipe Franz Ferdinand, herdeiro do trono austro-húngaro, e sua mulher, quando o casal se dirigia a Sarajevo, capital da Bósnia. O ato colocou a Rússia, a França e a Inglaterra contra a Áustria, a Alemanha e a Itália e desencadeou a Grande Guerra, que matou 9,2 milhões de soldados e 6 milhões de civis e deixou 20 milhões de feridos e 10 milhões de refugiados. Princip não previu essas consequências.

Em agosto de 1954, Gregorio Fortunato, chefe da segurança de Getulio Vargas, autorizou o assassinato de Carlos Lacerda, jornalista de feroz oposição ao presidente. Mas Lacerda só saiu ferido, do que resultou um cerco que levou Getulio ao suicídio e consolidou o mito do getulismo, que dividiria o Brasil por décadas. Incrível Gregorio ter provocado isso.

Em 25 de julho último, em Minneapolis, George Floyd, homem negro de 46 anos, morreu asfixiado quando um policial branco, Derek Chauvin, imobilizou-o por 8’46” com o joelho sobre seu pescoço. Para Chauvin, a barbárie que cometia contra um homem indefeso não tinha maior significado. Mas à morte de Floyd seguiram-se protestos que mobilizaram centenas de cidades dos EUA em torno da causa “Black Lives Matter” e podem determinar o resultado de uma eleição presidencial.

Finalmente, nesta terça-feira, em Beirute, no Líbano, a explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio estocadas num armazém durante seis anos está sendo atribuída à negligência de funcionários da zona portuária, repetidamente avisados do risco de tragédia. Muitos responderão por isso, mas em breve surgirá o nome de alguém a quem cabia a palavra final —culpado pela perda de tantas vidas e pela devastação de uma cidade.

Sim, eu sei, não é assim tão simples. Mas me intriga como atos provocados por uma única pessoa podem influir na vida de milhões.

O porto de Beirute destruído após a explosão de terça - Aziz Taher - 5.ago.2020/Reuters

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas