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Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Carta aberta pelo fim do VAR no Brasil

Quando tivermos maturidade, poderemos fazer nova tentativa

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Minha filha de seis anos ocasionalmente gosta de mexer no celular para fins recreativos. Mas sua falta de habilidade com a tecnologia tem preço. Já perdi ligação e mensagem, já vi aparecer aplicativo que eu não queria e sumir aplicativo de que eu precisava.

O VAR no Brasil lembra muito a minha filha. O problema não é a tecnologia, mas o fato de que não sabemos usar o brinquedo.

É uma constatação dura, porque sempre fui defensor do VAR. Antes achava que o problema era nossa mesquinhez. Compramos um equipamento mais em conta quando poderíamos investir em um mais no estilo Premier League —gostamos muito do VAR da Premier League neste guichê, da velocidade, precisão e pouca interferência. Mas chego à conclusão de que meu vizinho de coluna PVC matou a charada recentemente: o VAR ajuda a arbitragem que já é boa.

Árbitro brasileiro consulta vídeo para tomar decisão, mas não temos maturidade para lidar com a ferramenta do VAR - Rubens Chiri/saopaulofc.net

Não se admira que nenhuma equipe de VAR brasileira tenha sido selecionada para a Copa.

Aqui não sabemos traçar a linha, escolher o "frame", atribuir força, o que é braço de apoio, interpretar toque de mão; não sabemos que no "replay" toda falta é assassinato, que puxão desequilibra; e, principalmente, não conseguimos resolver qualquer lance de impedimento simples em menos de um minuto. A minha pelada tinha bem menos erros que qualquer partida do Brasileiro.

É tanto "não sabemos" que a solução imediata talvez seja desistir do VAR por um tempo. A endinheirada CBF poderia usar a VAR-verba para profissionalizar a arbitragem de uma vez por todas.

A tal ajuda eletrônica não ajudou nem a diminuir o tempo de conversas sobre arbitragem nas mesas-redondas de futebol. Pelo contrário, agora é possível discutir nos programas o árbitro do campo, o da sala de vídeo e a relação dos dois.

Tem problema toda semana, mas o de domingo (19) foi a cereja virtual do bolo. Internacional x Botafogo, no Beira-Rio. Bola bate no peito e depois na mão do defensor do Botafogo (não foi pênalti). Juiz é chamado ao VAR, que interpreta a jogada como penalidade e depois ainda expulsa o pobre botafoguense.

A virada épica, e foi épica mesmo, do Botafogo só se deu porque aconteceu um erro mais épico ainda, que fez o time sair de um 2 a 0 com um jogador a menos para terminar em um 2 a 3 emocionante.

Sávio Pereira Sampaio tomou péssimas decisões no domingo - Diego Vara - 19.jun.22/Reuters

O assistente de vídeo da arbitragem melhorou vários esportes. Em alguns ele é chamado de "desafio" ("challenge") porque é o próprio técnico ou o jogador quem o aciona, quando não concorda com alguma marcação. Roger Federer, que não reclama de nada na vida, questionou o tal desafio eletrônico em seu início no tênis, mas todo o circuito percebeu rapidamente que os erros foram minimizados.

O melhor VAR é o do rúgbi, no qual o juiz usa um microfone e todos escutam o que ele fala com a cabine de vídeo. E, apesar de os jogadores terem mais de músculos do que eu tenho de quilos, nenhum atleta fica atazanando o árbitro. Todos respeitam a decisão. Educada essa turma do rúgbi.

Por essas e outras, peço o fim momentâneo do VAR. Quando tivermos maturidade no futebol, poderemos fazer uma nova tentativa —e, quando minha filha tiver maturidade, ganhará um celular… provavelmente daqui a duas Copas.

Atualização - Round 38

Após um terço de Brasileiro, temos mais uma vítima: Eduardo Baptista, do lanterna Juventude. Para o seu lugar ressuscitaram Umberto Louzer, que tinha morrido no round 6 (!), quando estava no Atlético-GO. Assim, a conta dos sobreviventes (contando Dorival Jr.) agora é: Brasileiros 4 x 7 Estrangeiros. É o Brasil se aproximando de mais um 7 a 1.

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