Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça
Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Árbitros homens têm o privilégio de errar e são premiados em escala da CBF

Erros cometidos por juízas costumam custar mais caro do que falhas de seus colegas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os erros evidentes na arbitragem de campo e do VAR na partida entre Internacional e Botafogo pela Série A do Campeonato Brasileiro geraram grande repercussão. E, desta vez, até houve uma consequência –Rafael Traci, árbitro de vídeo do jogo em questão, estava escalado para o clássico entre São Paulo e Palmeiras nesta segunda-feira (20) e foi trocado.

Erros acontecem com frequência na arbitragem do futebol brasileiro, mas é perceptível como, ao que parece, para alguns há o "privilégio" de errar e continuar atuando nos principais jogos. Para outros (ou melhor, para outras), qualquer deslize pode ser fatal.

Antes de mais nada, uma constatação óbvia, mas que precisa ser repetida. A arbitragem no futebol brasileiro tem muitos problemas. E o principal deles é a falta de profissionalização da categoria.

Sávio erra e continua na escala; Edina, não - Diego Vara - 19.jun.22/Reuters

É cada vez mais urgente que uma função com tamanho impacto no jogo seja regularizada de uma forma que permita aos profissionais da área atuar exclusivamente no futebol, sem depender de outras carreiras para garantir sustento.

Se queremos árbitros bem preparados em todos os jogos, precisamos ter um sistema que permita a eles dedicação à carreira em 100% do tempo.

Agora, para pegar o caso mais recente. O árbitro do polêmico Internacional 2 x 3 Botafogo foi Sávio Pereira Sampaio. O nome me chamou a atenção ao acompanhar a partida porque, há exatamente um mês, estive na transmissão de um jogo que teve uma atuação muito ruim dele. Foi Santos 0 x 0 Ceará em Barueri, com um gol do Santos mal anulado e um jogador do Ceará expulso de maneira equivocada.

Fiquei surpresa que, mesmo após essa atuação muito ruim naquela partida, lá estava o mesmo árbitro de novo escalado para um jogo importante, de duas camisas gigantes do futebol brasileiro. Aí, por curiosidade, fui olhar a escala dele no site da CBF. Desde aquele Santos x Ceará, Sávio foi escalado para outros quatro jogos, sendo três da Série A. Toda semana, ele está envolvido em jogo de times grandes.

Não estou dizendo aqui que, por erros eventuais cometidos em uma partida, um árbitro deveria ser severamente punido e retirado da escala por completo. Mas é preciso que haja coerência, então, nas medidas tomadas quando há erros de arbitragem constatados.

E é nítida essa diferenciação quando pegamos exemplos de árbitros (homens) e árbitras (mulheres). Infelizmente, não há um grande número de representantes femininas no quadro de arbitragem da CBF, e só uma delas costuma apitar jogos da Série A do Brasileiro desde 2019 –Edina Alves Batista. Erros cometidos por ela costumam custar mais caro do que erros cometidos por seus colegas homens.

No clássico entre Santos e São Paulo pelo Campeonato Paulista em fevereiro, dois pênaltis não marcados por Edina a favor do time santista foram reconhecidos pela Federação Paulista em nota oficial. A partir daí, ela perdeu espaço nas principais escalas do futebol brasileiro. Para se ter uma ideia, Edina não apitou ainda nenhum jogo da Série A neste ano (já se foram 13 rodadas) nem da Copa do Brasil. Enquanto isso, Sávio Pereira Sampaio já atuou em oito jogos da Série A e em dois da Copa do Brasil.

Esse é apenas um exemplo daquilo que as mulheres vivenciam no futebol (seja atuando na arbitragem ou nas transmissões dos jogos). Basta um erro, e todo o espaço conquistado é colocado em xeque. Vivemos pisando em ovos. "Tá vendo por que mulher não pode apitar/narrar/comentar?" Enquanto isso, árbitros, narradores, comentaristas continuam cometendo erros (porque, afinal, ninguém é imune a eles), e ninguém constata: "Olha aí, isso que dá colocar homem para apitar/narrar/comentar". Percebem a diferença?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.