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Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Tiranovírus e outros patógenos

O protocolo recomenda paciência e tenacidade na reação

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É tempo de afluência de agentes microscópicos que fazem os seres humanos adoecer, enrubescer, explodir de ódio e desejar a aniquilação do adversário. A coisa não se restringe ao terreno da biologia.

O vibrião da cólera, não o do cólera, deflagra na pessoa acometida uma marcha à ré evolutiva. Ativado pela exposição excessiva a Facebook, Twitter ou WhatsApp, anula os dispositivos mentais que possibilitaram à espécie conviver e prosperar em comunidades maiores que um punhado de indivíduos aparentados.

Quando já está infestado de cólera, o organismo social acaba sendo presa fácil de infecções oportunistas. É nesse substrato repleto de bile, embora de sinapses rarefeito, que o tiranovírus mais gosta de intervir. E intervir é o verbo correto aqui.

Tipos mais antigos desse patógeno tomavam logo de assalto os órgãos vitais do hospedeiro. Arriscavam-se a enfrentar uma reação mais violenta dos anticorpos e, depois de conquistado o sistema nervoso central, à manifestação inequívoca da doença, o que poderia chamar a atenção de oponentes internos e externos.

Charge de Jean Galvão publicada na Folha - Jean Galvão

Mutações e sujeição prolongada à luz do Sol transformaram o tiranovírus moderno num bicho tinhoso. Ele age devagarinho, começando pelos tecidos periféricos. Engana o sistema imunológico utilizando os mesmos marcadores químicos que legitimam os elementos saudáveis.

Sabota uma função aqui, bloqueia uma ligação nervosa ali. Instala células cupinchas no sistema muscular, depois nos órgãos da consciência, do autocontrole e do juízo. Vai corroendo as articulações e as cartilagens. Por fora, às vezes durante vários anos, o corpo nem parece que está sendo subvertido pela infecção.

Mas a corrida armamentista não valeu só para um lado. A terapia contra o tiranovírus também avançou bastante. O protocolo recomenda paciência e tenacidade na reação.

O micróbio vai atacar muitas vezes e em diversos locais para testar a resistência do organismo. Se der sempre com a cara de tacho na fortaleza da democracia, um dia cai fora.

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