No livro de ensaios que o imortal Antonio Carlos Secchin reedita para celebrar o centenário de João Cabral de Melo Neto, chama atenção um inédito que discute a progressiva desavença dele com outro dos nossos maiores poetas: Carlos Drummond de Andrade.

O texto conta que Drummond se referia ironicamente a "Uma Faca Só Lâmina", um dos poemas mais conhecidos de Cabral, como "uma faca salame". Também passou para a frente, de modo ostensivo, um exemplar com dedicatória de "Museu de Tudo", livro cabralino de 1975.

Pouco se sabe sobre as razões da rusga, que nunca foi admitida em público. Mas é revelador que os dois poetas tenham trocado 61 correspondências de 1940 a 1957 e, entre esse ano e a morte de Drummond, três décadas depois, apenas uma —que nem teve seu recebimento comprovado.

Secchin sugere que foi o dissenso estético que acabou afastando Cabral de Drummond, que fora seu padrinho de casamento em 1946. Afinal, o poeta recifense passara "de discípulo da poesia drummondiana [...] a ser seu contendor, com uma dicção poética em nítido contraste com a do antigo mestre".

"João Cabral de Ponta a Ponta", que reúne este e outros 25 ensaios, chega às lojas ainda este mês pela Cepe Editora.

DISTOPIA SEM FIM A Tordesilhas prepara uma biografia de George Orwell para o mês que vem. "Orwell: Um Homem do Nosso Tempo", lançado em janeiro no Reino Unido, tem a proposta de usar aspectos da vida e obra do escritor para iluminar discussões do presente. A ideia é mostrar como o contexto em que foram escritos livros como "1984" e "A Revolução dos Bichos" guarda relação com os dias de hoje.

CASOS DE FAMÍLIA Michel Laub deve lançar antes do fim do ano seu próximo romance, "Solução de Dois Estados", pela Companhia das Letras. O enredo é sobre uma cineasta alemã que se recupera de um trauma fazendo um documentário sobre a violência brasileira, com gancho na história de dois irmãos: uma artista de 130 quilos que detesta o próprio corpo e um empresário fitness.

POLE POSITION A coluna contou, na semana passada, que a Todavia vai passar a publicar a obra da intelectual jamaicana Claudia Rankine a partir do ano que vem. Mas as Edições Jabuticaba planejam, ainda para este ano, o lançamento de "Cidadã", livro de poemas-ensaios sobre identidade e negritude que partem da vida da autora. A tradução é de Stephanie Borges, que também trabalha com a Todavia.