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Descrição de chapéu transporte público

Transporte sobre trilhos de SP tem histórico recente de falhas operacionais

Especialistas dizem que alta demanda pode explicar seguidas ocorrências, mas empresas deveriam estar mais bem preparadas

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São Paulo

Na manhã da última terça-feira (14), dois funcionários da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) foram atropelados por um trem entre as estações Tatuapé e Engenheiro Goulart, da linha 12-safira, em São Paulo.

Um deles, de 52 anos, morreu no local. O outro, de 48 anos, lesionou gravemente as costas. A CPTM disse apurar as circunstâncias do acidente.

Episódio do tipo não é raridade. Usuários do sistema de transporte sobre trilhos de São Paulo —incluindo o monotrilho, que, apesar do nome, utiliza pneus para locomoção— convivem com casos recentes de descarrilamentos, batidas e falhas operacionais, além de atrasos e desconforto nas viagens.

Movimentação na estação República do metrô, em que passam as linhas 3-vermelha e 4-amarela - Avener Prado/Folhapress

Caso notório é o das linhas 8-diamante e 9-esmeralda, que tiveram suas operações transferidas da CPTM para a concessionária ViaMobilidade em janeiro do último ano. Só em 2022, os trechos registraram 157 falhas, divididas entre equipamentos, trens, trilhos, sistema de alimentação elétrica, rede aérea e sinalização, gerando superlotações e atrasos.

Neste ano, dois descarrilamentos já aconteceram na linha 8. O último, no sábado (18), deixou passageiros presos no trem sem sistema de refrigeração. Uma mulher passou mal.

Durante um mês, entre setembro e outubro do último ano, a reportagem utilizou a linha esmeralda em horários e condições climáticas diferentes. Sempre em dias úteis, de ponta a ponta.

Problemas foram percebidos em mais da metade das viagens. Paradas entre estações eram usuais, atrasando o percurso em até sete minutos. Houve também intercorrências na ventilação, que por vezes ficava muito gelada e, em outras, parecia estar desligada, gerando desconforto para os passageiros.

O descarrilamento de um trem de carga da empresa MRS Logística próximo à estação Tatuapé, na zona leste de São Paulo, em dezembro do último ano, interditou parte dos trilhos, afetando as linhas 11-coral e 12-safira da CPTM. O estorvo durou dias.

Recentes contratempos na linha 15-prata do monotrilho, administrada pelo Metrô, também causaram preocupação. Na madrugada do dia 8 deste mês, o transporte ficou três horas paralisado devido à batida entre dois trens não tripulados. A cena se repetiu na quinta-feira (9), quando uma nova colisão foi flagrada.

Pouco antes, em 20 de janeiro deste ano, falhas no sistema de controle haviam paralisado o trecho por duas vezes.

Já em setembro do ano passado, um bloco de concreto da estrutura da mesma linha caiu de uma altura de 15 metros sobre uma ciclovia na avenida na zona leste da capital. Após o ocorrido, o Ministério Público de São Paulo realizou vistoria e observou irregularidades que prejudicam durabilidade e segurança da estrutura utilizada.

O sistema de metrô também não escapa das situações problemáticas. Uma falha elétrica, por exemplo, paralisou a operação de 8 das 11 estações da linha 4-amarela, administrada pela ViaQuatro, do mesmo grupo da ViaMobilidade, na manhã de 15 de fevereiro deste ano. O problema afetou milhares de passageiros ao longo do dia.

Foram cerca de duas horas sem serviço nos dois sentidos do trecho entre as estações Paulista e Vila Sônia. A situação só foi normalizada durante a noite.

Naquele mesmo dia, houve complicações nas linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha, estas sob administração do Metrô. Durante longo período, os trens circularam com velocidade reduzida, aumentando o caos.

Flamínio Fichmann, diretor e coordenador do Grupo de Mobilidade Urbana da Associação Brasileira do Veículo Elétrico, afirma que as complicações ocorrem recorrentemente em razão de o sistema sobre trilhos, pela alta demanda, operar sempre no seu limite.

"É preciso investir em outros meios, como ônibus, sem achar ser um sistema inferior. Precisamos de BRT [ônibus de trânsito rápido], com faixas exclusivas e estações modernas, e ciclovias integradas, com acesso aos terminais. Um sistema complementar ajudaria a desafogar o já existente", diz Fichmann.

Rafael Castelo, professor do departamento de engenharia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), complementa que falhas acontecem em todo o mundo, que não possui tecnologia muito diferente da presente no Brasil.

"Mas essas ocorrências deveriam fazer com que as empresas se preparem melhor e estabeleçam sistemas de manutenção mais eficazes a fim de minimizar impactos aos usuários", continua ele.

Castelo ainda diz ser a experiência das administradoras crucial em momentos de adversidade.

"Os operadores do metrô e dos trens metropolitanos têm quase meio século de experiência na construção, operação e manutenção do sistema. É um capital intelectual muito rico. No caso do monotrilho, é uma novidade para os operadores paulistanos. Há de se desenvolver ainda um capital para lidar melhor ele", diz.

Em nota, a Secretaria de Transportes Metropolitanos declara que CPTM e Metrô, ligadas a ela, investem constantemente em melhorias e obras visando tornar a viagem do passageiro mais segura e confortável, "além de manter de forma rigorosa a programação de manutenção de estruturas civis, trens, via permanentes, equipamentos, sistemas de sinalização e os atendimentos corretivos".

A Secretaria de Transportes Metropolitanos também afirma que para atender a população da região do ABC, a EMTU está construindo o BRT-ABC, com previsão de entrega para dezembro de 2024 e deve atender a uma demanda média de 170 mil passageiros por dia. A obra foi planejada para ser licenciada e executada em três fases: a 1ª fase, atualmente em execução, possui 3,8km de extensão e contará com três paradas, do Paço Municipal (Terminal São Bernardo) até o entroncamento da Avenida Lauro Gomes com a Avenida Winston Churchil.

A próxima fase contará com 13,5km de extensão e 13 paradas, do entroncamento desse trecho até o limite dos municípios de São Bernardo do Campo e São Paulo, no encontro dos Ribeiros dos Couros e Meninos. Por fim, segundo a secretaria, a 3ª fase terá sete paradas e a partir da divisa dos municípios de São Bernardo do Campo e São Paulo até o Terminal Sacomã, passando pelo Terminal Tamanduateí.

A ViaMobilidade afirma que serão investidos R$ 3,9 bilhões em melhorias nas linhas 8 e 9, já tendo sido "investido cerca de R$ 1 bilhão desde o início da concessão".

Desde o último ano, a empresa também declara ter recebido os trechos em estado ruim de conservação. No último mês, em encontro com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente da CCR Mobilidade, que controla a concessionária, Marcio Hannas, disse ter subestimado o desafio da operação das linhas por não ter conhecimento da situação dos trens.

Linhas são alvo de investigações

Em razão da sequência falhas apresentadas, o Ministério Público passou a investigar a administração das linhas 8-diamante e 9-esmeralda. No último mês, o promotor Silvio Marques, titular da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, declarou que deve pedir à Justiça o fim da concessão.

Pressionado pela situação, o governador paulista defendeu a ViaMobilidade e disse que estaria morto se deixasse "o Ministério Público governar".

Também é conduzida pela Promotoria paulista investigação sobre a linha 15-prata do monotrilho.

O Ministério Público disse que fará uma reunião em abril com o Metrô e o CEML (Consórcio Expresso Monotrilho Leste), união responsável pela execução do projeto do monotrilho composta pelas construtoras Queiroz Galvão, OAS e a Bombardier, para chegar a um acordo sobre a correção de problemas na linha do monotrilho.

A Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também pedirá ao consórcio uma indenização por danos coletivos e ao patrimônio público pelo que considera uma má execução da obra.

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