Siga a folha

Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Camisa amarela da seleção brasileira surgiu após trauma do Maracanazo

Cor foi escolhida em um concurso do Correio da Manhã vencido por Aldyr Schlee

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Símbolo do futebol brasileiro e de seu reconhecimento global como país apaixonado pelo esporte, a camisa amarela da seleção, consagrada como pentacampeã mundial, nasceu de um trauma nacional que completa 70 anos nesta quinta-feira (16).

Em 16 de julho de 1950, o Brasil perdeu para o Uruguai por 2 a 1 de virada, no último jogo das equipes na Copa do Mundo realizada no país e ficou com o vice-campeonato, em um Maracanã que reuniu mais de 200 mil pessoas. O episódio entrou para a história do futebol como o Maracanazo.

Foi a última vez que a seleção utilizou uniforme branco, sua cor oficial até então, em Mundiais.

Em 1953, um concurso realizado pelo jornal carioca Correio da Manhã, em parceria com a então Confederação Brasileira de Desportos, determinaria as novas cores da indumentária brasileira. Os postulantes deveriam propor o kit completo: camisas, calções e meiões.

O Correio da Manhã considerava o branco "inexpressivo", opaco diante da variedade de cores mais vivas da bandeira nacional. Por isso, entre as regras estabelecidas pelo periódico, havia a necessidade de incluir nos desenhos as quatro cores presentes no estandarte brasileiro.

A campanha do jornal, que procurava renovar a identificação do torcedor brasileiro com sua seleção, reuniu mais de 300 participantes.

Venceu uma combinação que trazia a camisa predominantemente amarela com detalhes verdes e calções azuis com detalhes brancos.

A ironia do vencedor estava em sua origem: o gaúcho Aldyr Schlee nasceu em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, e sempre ficou dividido com relação à torcida pelas duas seleções. Por isso ele contava que não havia ficado triste com o triunfo uruguaio em 1950, no Maracanã.

Na época do concurso, Schlee vivia em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, e trabalhava como desenhista em um jornal local, ilustrando lances e gols de partidas de futebol para as páginas de esportes do veículo.

"Fiz mais de cem desenhos. Fiz duas faixas com um "X". Fiz um "V" como o do Vélez Sarsfield [da Argentina]. Cheguei à conclusão de que a camisa tinha que ser toda amarela”, afirmou Schlee ao jornalista inglês Alex Bellos, que escreveu o livro "Futebol, o Brasil em campo", cuja capa está ilustrada com os croquis desenhados pelo gaúcho.

Para a versão final do desenho, Aldyr Schlee utilizou o amarelo-ouro para a camisa e o azul-cobalto para o calção. Não eram exatamente as tonalidades da bandeira nacional, mas o seu projeto foi aceito pelo júri do Correio da Manhã e da CBD e venceu o concurso.

Aldyr Schlee em meio a várias camisas amarelas da seleção brasileira, que ganharam essa cor graças ao gaúcho - Paulo Rossi - 14.jun.2010/Folhapress

Além de um prêmio em dinheiro, cerca de 4 mil cruzeiros à época, o vencedor ganhou também um estágio no jornal.

A novidade estreou em Copas do Mundo já na edição do ano seguinte, em 1954, na Suíça. A seleção brasileira caiu nas quartas de final para a Hungria.

Sua consagração como símbolo do futebol brasileiro viria em 1962, quando Mauro Ramos de Oliveira ergueu a taça Jules Rimet, vestindo camisa amarela, após vitória do Brasil sobre a Tchecoslováquia na final, em Santiago.

No Mundial anterior, a Fifa determinou que, na decisão, só uma das duas seleções poderia vestir amarelo. Como os suecos eram os anfitriões da competição, jogaram com seu uniforme principal, enquanto o Brasil precisou improvisar, conseguindo às pressas um novo jogo de camisas.

Chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho determinou que a camisa da decisão fosse azul, uma referência ao manto de Nossa Senhora Aparecida, de quem o dirigente era devoto. Com essa cor, a equipe comandada por Vicente Feola bateu a Suécia por 5 a 2 e conquistou o primeiro título mundial.

A Copa do Mundo de 1958, entre as que foram vencidas pela seleção brasileira, foi a única em que a equipe não vestiu amarelo na final.

Criador da camisa amarela, Aldyr Schlee morreu em novembro de 2018, aos 83 anos.

Em 2016, ele disse à Folha que o uso do uniforme em manifestações contra a corrupção era um contrassenso. "Esses mal-informados usam a camisa da entidade mais corrupta do mundo", disse Schlee, em referência à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aos escândalos em que dirigentes da entidade se envolveram nos últimos anos.

A camisa da seleção, assim como a bandeira e o hino nacionais, também foi apropriada por apoiadores de Jair Bolsonaro, que costumam ir às ruas vestindo amarelo em seus atos. Em resposta, setores críticos ao governo querem devolver a esses símbolos a condição de bens comuns da sociedade brasileira.

Na sua campanha em defesa da democracia, inspirada no movimento das Diretas Já, da década de 1980, a Folha tem estimulado os leitores a usar a cor amarela.​

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas