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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Em campanha, prefeita de Paris mergulha nas Olimpíadas

Tentativas de Anne Hidalgo de dar à capital francesa uma reforma verde a tornaram impopular, mas inabalável

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Leila Abboud Sarah White Kenza Bryan
Financial Times

Sob um céu azul, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, deu um mergulho no Sena na semana passada sob aplausos de centenas de espectadores, muitos dos quais trabalharam no projeto de vários anos para limpar o rio para eventos de natação olímpica.

A façanha ganhou as manchetes em todo o mundo a poucos dias da abertura dos Jogos, aumentando o já elevado chamariz internacional da combatente verde de 65 anos que é prefeita desde 2014. Ela foi reeleita para um segundo mandato em 2020.

No entanto, antes do tão prometido mergulho de Hidalgo, uma campanha nas redes sociais se espalhou sob a hashtag #jechiedanslaseine ("Eu cago no Sena") com pessoas se comprometendo a defecar para expressar sua aversão pela prefeita e sua política. "Eles nos colocaram na merda, então agora cabe a eles nadar em nossa merda", dizia o site criado pelos manifestantes insatisfeitos.

Essa campanha mostrou o ódio muitas vezes imoderado que a prefeita socialista inspira em alguns parisienses, que criticam sua drástica redução do tráfego de carros e imposição de controle de aluguéis. A primeira prefeita mulher de Paris está entre os políticos menos populares do país —uma pesquisa recente mostrou uma taxa de desaprovação de 70%— e sua candidatura presidencial em 2022 foi catastrófica.

Anne Hidalgo durante mergulho no Rio Sena, em Paris - AFP

Hidalgo, no entanto, riu da campanha do cocô, segundo pessoas que trabalham para ela, e sorriu depois de executar um nado confiante no Sena. O governo francês gastou cerca de 1,4 bilhão de euros (8,5 bilhões) para sediar os eventos olímpicos de natação do triatlo e da maratona aquática no rio.

"Era um sonho e agora é realidade", disse ela. "Depois dos Jogos, teremos natação no Sena para todos os parisienses."

Pierre Rabadan, ex-jogador profissional de rúgbi que trabalha como conselheiro esportivo de Hidalgo, diz que nunca a viu expressar publicamente seus sentimentos sobre o assunto. "No mundo árduo da política, se você mostrar fraqueza, as pessoas vão explorar qualquer brecha na armadura", observou Rabadan. "Ela é combativa, um pouco como uma lutadora, e muito determinada a seguir adiante com suas ideias."

Os holofotes agora estarão voltados para Hidalgo e Paris, que sediará uma versão ambiciosa, porém arriscada, das Olimpíadas. Um risco será a extravagante cerimônia de abertura com atletas em uma armada de barcos, que um especialista em segurança chamou de "loucura criminosa", uma vez que seria impossível policiar.

A capital francesa também busca realizar uma Olimpíada mais sustentável e acessível —para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, apenas duas arenas foram construídas. A maioria dos eventos será realizada em locais temporários em monumentos históricos no centro da cidade, causando grandes transtornos aos moradores.

As missões gêmeas de Hidalgo como prefeita têm sido dar a Paris uma reforma verde radical e manter a cidade acessível para pessoas de renda média e baixa, investindo bilhões em habitação social, muitas vezes através da compra de propriedades e da sua conversão.

Sua dedicação à causa verde tornou-a famosa no exterior, onde é mais respeitada em aparições na ONU (Organização das Nações Unidas) e nas conferências climáticas da COP (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) do que em casa, onde é criticada pela má gestão da cidade e pelas finanças públicas degradadas.

Nascida perto de Cádiz, na Espanha, filha de um eletricista e de uma costureira, Hidalgo mudou-se para Lyon quando criança e se tornou cidadã francesa na adolescência. Seu primeiro emprego foi como inspetora do trabalho para o governo.

Social-democrata convicta, entrou para a política em meados dos anos 1990 como conselheira de vários ministros em nível nacional. Em 2001, foi eleita em uma lista socialista para o conselho municipal de Paris no 15º distrito na margem esquerda, onde ainda mora. Ela foi por muito tempo a número dois de seu antecessor como prefeito socialista, Betrand Delanoë, e o sucedeu em 2014.

As atitudes em relação a ela endureceram entre alguns parisienses em 2016, quando ela se livrou de uma rodovia ao longo do Sena e transformou o cais em uma zona pedestre arborizada, agora apreciada por ciclistas e pessoas que saem para correr ou passear.

"Ela teve políticas muito extremas contra motoristas, e por extensão, contra pessoas que vivem nos subúrbios", disse Pierre Chasseray, do grupo de lobby pró-carro "40 millions d'automobilistes" (40 milhões de motoristas).

A cidade construiu recentemente 1.500 km de ciclovias, aumentou os preços de estacionamento para SUVs e proibiu carros nas principais vias de acesso, como a Rue de Rivoli, reservando-as principalmente para ciclistas.

Na Prefeitura, onde está em coalizão com Verdes e Comunistas, Hidalgo tem "reputação de ser irascível", afirma o conselheiro verde Alexandre Florentin, que, ainda assim, diz admirá-la. Ela se irritou com qualquer sugestão de que não é "a prefeita mais verde que o planeta já viu".

Grupos ambientalistas criticaram Hidalgo e os organizadores olímpicos por "greenwashing", com a alegação de minimizar a produção de resíduos, ao mesmo tempo em que são patrocinados pela empresa de bebidas Coca-Cola, um grande gerador de plástico.

Sua feroz rival no conselho da cidade, a política de direita Rachida Dati, a acusou de desperdiçar dinheiro público no escândalo chamado Tahiti Gate no ano passado, quando fez uma viagem de uma semana para lá apenas para cancelar uma visita ao local de competição do surfe olímpico.

No entanto, Hidalgo permanece desafiante. "Se não fossem os Jogos, não teríamos chegado a este momento", disse ela sobre nadar no Sena. "Eles foram um acelerador que direcionou todas as nossas energias para um objetivo." Quer os parisienses gostem ou não.

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