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Olimpíadas 2024

COB vai admitir que o Brasil olímpico piorou ou fazer malabarismo?

Em Paris-2024, país caiu em ouros, muito, e em total de pódios, pouco, em relação a Tóquio-2020; falar em evolução pegará mal

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São Paulo

"Nosso produto é medalha."

Essa frase estava na resposta do diretor-geral do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Rogério Sampaio, a uma pergunta da Folha, feita antes do início das Olimpíadas de Paris, sobre a expectativa de pódios do país para estes Jogos.

Pois o produto medalha está menos na vitrine do comitê agora do que em Tóquio-2020, a edição olímpica anterior, realizada em 2021 devido à pandemia de coronavírus.

No Japão, na melhor campanha já feita, o Brasil conquistou sete medalhas de ouro, seis de prata, oito de bronze. Na França, são três ouros, sete pratas, dez bronzes.

A brasileira Ana Sátila, quarta colocada na final da canoa individual na canoagem slalom de Paris-2024 - AFP

Não há matemática que possa mudar esse panorama, não há como não aceitar o óbvio: pioramos. Pouco no total de medalhas (21 a 20), muito na medalha mais valorizada, a dourada (7 a 3).

O COB fará neste domingo (11), na capital francesa, um balanço da participação brasileira em Paris-2024. Estarão na mesa, diante dos jornalistas, Sampaio, que chefia a delegação, e o presidente do comitê, Paulo Wanderley.

Certamente satisfeitos com o desempenho do judô (um ouro, duas pratas, um bronze, melhor resultado na história), esporte que praticaram –Sampaio, expoente olímpico, foi ouro em Barcelona-1992–, mas consideravelmente desgostosos com a performance geral.

Se estiverem contentes, não deveriam estar. Menos medalha é menos medalha. Teve declínio. Ponto final.

Mas os dirigentes possivelmente parecerão contentes aos olhares do público, em um ato teatral.

Esporte é negócio, e elogiar a campanha do Brasil faz parte de um roteiro preestabelecido, com o objetivo de não afugentar patrocinadores para o próximo ciclo olímpico, o de Los Angeles-2028.

Rogério Sampaio, diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil, durante o Pan-Americano de 2023, no Chile - COB/Divulgação

É provável que apareça uma oratória malabarista, para contornar uma situação adversa. Argumentos pouco categóricos que indicarão que o país evoluiu.

Virão frases do tipo "chegamos a mais finais, tinham sido X, agora foram Y", "estivemos muito perto do pódio N vezes", "modalidade W teve seu melhor desempenho", "atleta K jamais competiu tão bem".

Nenhuma delas será mentirosa, haverá números e exemplos que as sustentem. Só que soarão como uma cortina de fumaça para disfarçar a oferta menor do produto medalha.

Pegará mal. Principalmente porque, nas palavras do Departamento de Comunicação do COB, "nunca o Comitê Olímpico do Brasil investiu tanto em esportes como agora".

Se o investimento financeiro tivesse diminuído, seria aceitável a redução nos pódios. Mas não. Só tem crescido, ano a ano, o dinheiro público direcionado às confederações esportivas.

Em 2023, o COB repassou R$ 201 milhões a essas entidades por meio da chamada Lei das Loterias, que direciona ao comitê uma porcentagem do arrecadado pela Caixa Econômica Federal com apostas em casas lotéricas. Acima dos R$ 165 milhões de 2022, abaixo dos R$ 225 milhões previstos para este ano.

Isso sem contar os recursos privados, também na casa dos milhões.

De acordo com o COB, sua receita com patrocínios (não informada), cresceu 240% no atual ciclo olímpico. O comitê tem duas dezenas de empresas patrocinadoras, entre as quais Vivo, Azul, Riachuelo, Kraft Heinz e Havaianas.

Contudo, mesmo após forte injeção de verba, o quadro de medalhas é peremptório. Colocação em Tóquio: 12º lugar. Colocação em Paris: 20º lugar (na melhor hipótese). Não é um tombo colossal, mas é um tombo significativo.

Mais honroso para o COB, em seu discurso, será reconhecer o declínio. Expor o que pode ter dado errado para a falta de mais medalhas e, principalmente, para a falta de mais ouros.

O comitê esperava que modalidades que nunca subiram ao pódio "medalhassem" pela primeira vez.

Não aconteceu, a não ser que o COB decida considerar a marcha atlética (prata com Caio Bonfim) uma modalidade do atletismo, o que seria como classificar o solo ou a trave, aparelhos da ginástica artística, de modalidades. Disparate.

Melhor é expor que ginástica rítmica, tiro com arco e tênis de mesa, bem cotados, não chegaram lá. Decepcionaram?

Guilherme Costa, o Cachorrão, chora depois do quinto lugar na final dos 400 m nado livre das Olimpíadas de Paris - COB/Divulgação

Mais: vela e natação, terceiro e quarto esportes com mais pódios na história do Brasil olímpico, 19 e 17 respectivamente, zeraram em Paris-2024. O que houve, e como mudar esse quadro?

Respostas sem rodeios, com reconhecimento e exposição de possíveis falhas e propostas concretas para impulsionar de vez o esporte nacional são desejáveis e muito bem-vindas.

Pois a caminhada para Los Angeles-2028 já começa no apagar das luzes do Stade de France, palco do encerramento de Paris-2024 na noite francesa deste domingo.

MEDALHAS E COLOCAÇÃO DO BRASIL NESTE SÉCULO NAS OLIMPÍADAS

Paris-2024: 20 (3 ouros, 7 pratas, 10 bronzes) - 20° lugar*

Tóquio-2020: 21 (7 ouros, 6 pratas, 8 bronzes) - 12º lugar

Rio-2016: 19 (7 ouros, 6 pratas, 6 bronzes) - 13º lugar

Londres-2012: 17 (3 ouros, 5 pratas, 9 bronzes) - 22º lugar

Pequim-2008: 17 (3 ouros, 4 pratas, 10 bronzes) - 23º lugar

Atenas-2004: 10 (5 ouros, 2 pratas, 3 bronzes) - 16º lugar

* Até as 19h de sábado, 10/8

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