Compromisso ambiental não traz prejuízo econômico, defendem especialistas
Para executiva, ambientalista e representante de ministério, preservação não atrapalha crescimento
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Como proteger a mata atlântica e outros biomas brasileiros? Questionados sobre isso em um bate-papo online da TV Folha, um ambientalista, um representante do governo federal e uma executiva deram respostas variadas, mas com uma tônica comum: a defesa de que a preservação ambiental não se contrapõe ao desenvolvimento econômico.
Bráulio Dias, diretor de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ligia Camargo, diretora de sustentabilidade da Heineken, e Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, foram os convidados do Papo de Responsa, bate-papo online promovido pela Folha Social Mais nesta quarta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, com foco em soluções para a mata atlântica.
Para Dias, os projetos de lei que enfraquecem o licenciamento ambiental — e que o governo federal tem tido dificuldade em barrar no Congresso — são um sinal de que os partidos de oposição desconsideram o prejuízo que essas medidas trazem para o próprio produtor rural.
Ele citou o controle biológico de pragas, a reciclagem dos nutrientes do solo, a retenção do excesso de água de chuvas e a polinização de culturas agrícolas entre os serviços ecossistêmicos que deixam de acontecer quando se elimina os remanescentes de vegetação natural protegidos pelo Código Florestal.
Como exemplo, mencionou as plantações de maracujá, que são naturalmente polinizadas por uma espécie de abelha conhecida como mamangava. Com a redução da população desse inseto e sua extinção em algumas regiões, produtores pagam agricultores para levar o pólen de uma flor para a outra com o uso de pincéis.
"Esse processo representa um quarto do custo da produção de maracujá no interior de SP. Isso nos dá a estimativa do valor desse serviço da polinização para os agricultores", afirmou, acrescentando que, em média, o valor da polinização para as lavouras brasileiras é estimado em US$ 44 bilhões ao ano.
"O problema é que prevalece a ideologia de que a agenda ambiental atrapalha os interesses econômicos, o que é uma visão completamente errônea, uma falta de visão. Se você não tem uma legislação ambiental efetiva, você vai dilapidar seus recursos naturais, os serviços ecossistêmicos, e toda nossa economia depende disso", defendeu Dias.
Sustentabilidade não aumenta custo, diz executiva
Para Lígia Camargo, que trabalha há 15 anos com sustentabilidade em grandes empresas, o setor também deve entender os prejuízos que podem vir do uso inadequado da terra e da água —e não o contrário.
"A sustentabilidade, para muitas companhias, passou a ser um assunto vinculado a risco", afirmou. "Hoje, essa é uma área que está muito menos isolada dentro das empresas. Não dá mais para a gente pensar em crescimento a qualquer custo."
Em sua visão, a adoção de processos ambientalmente corretos dentro das fábricas não deve ser vista como um gasto, mas como um diferencial competitivo — e que não necessariamente aumenta o custo da produção ou o preço do produto final.
"Os processos de ecoeficiência dentro da fábrica — adotar energia solar, otimizar a logística do produto — trazem, inclusive, melhoria financeira", afirmou.
Guedes Pinto apontou a desinformação e a guerra de narrativas como um obstáculo para a conscientização sobre o tema. "Existe uma visão de que preservar a natureza é um empecilho para o bem-estar, a prosperidade e o enriquecimento, o que é uma narrativa totalmente equivocada e sem base científica, contra a narrativa da ciência de que há interdependência entre a natureza e a humanidade", afirmou.
Ele lembrou que o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) concluiu que a humanidade tem o capital e a tecnologia para resolver a crise climática.
Para o ambientalista, políticas públicas são a principal solução para proteger as florestas. "Votar é a coisa mais importante que as pessoas podem fazer. Vote em quem vai proteger a mata atlântica, os nossos biomas", defendeu.
Guedes Pinto também sugeriu que a população frequente parques, unidades de conservação e outras áreas verdes, como um antídoto para a falta de conexão dos moradores da cidade com a natureza. "Viva a mata atlântica. Vá para a natureza, respire a natureza, seja parte da natureza. Isso já é um passo muito importante."
A causa "Mata Atlântica: Regenerar e Preservar" tem o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica.
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