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Cinema

'O Ano de 1985' retrata contexto obscurantista da disseminação da Aids

Longa faz crônica de momento sombrio em que o medo da morte foi associado ao desejo

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O Ano de 1985 (1985)

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (25)
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Cory Michael Smith, Virginia Madsen, Michael Chiklis
  • Produção: EUA, 2018
  • Direção: Yen Tan

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Histórias parecidas com as de Adrian, protagonista de “O Ano de 1985”, aconteceram de fato com milhares de jovens gays desde a década de 1980 e foram contadas sempre de modo trágico. Por isso, não é originalidade o que distingue o longa dirigido por Yen Tan.

Embora a palavra Aids não seja mencionada nos diálogos, seu ocultamento traduz as implicações que o vírus espalhou naquela época. “Punição divina” ou “câncer gay” foram alguns dos terríveis termos que acompanharam a disseminação do HIV. Além do suplício físico, as vítimas eram obrigadas a carregar o fardo do moralismo e, com isso, a Aids, mais que doença, virou “metáfora”.

 

“O Ano de 1985” reconstitui esse contexto obscurantista com uma admirável capacidade de equilibrar economia e sinceridade. O jovem Adrian retorna de Nova York para um Natal em Fort Worth, no Texas, onde vivem os pais e o irmão adolescente.

O reencontro força o ressurgimento de segredos e de interditos, mostra Adrian como um sujeito para quem o passado é um fardo e que só pôde ser gay às escondidas, fugindo de casa e dos amigos, experimentando desejos, mas sobrecarregando-se de culpa.

O pai, veterano do Vietnã, e a mãe, submissa ao marido e aos dogmas religiosos, aparecem, num primeiro momento, como caricaturas do conservadorismo. Aos poucos, essa fachada também revela fissuras.

Ao lado deles, o irmão garoto ganha o sentido de espelho juvenil e já sufocado do mais velho, alguém que deseja e não encontra saídas, o que é reafirmado no paralelismo dos nomes Adrian e Andrew.

A opção pelas imagens em preto e branco não se limita somente à função de evocar o passado. A fotografia sombreada também reflete o modo de ser dos personagens, que se movem escondidos ou ocultam sentimentos e questionamentos.

Outro efeito do preto e branco é projetar uma tonalidade melancólica, emoção mais conforme à angústia do que é representado.

Assim, “O Ano de 1985” não confunde passado e nostalgia, prefere fazer a crônica de um momento sombrio em que o medo da morte foi associado ao desejo, um método diabólico para tentar eliminar o prazer. E dá a oportunidade a quem não viveu aqueles anos ou sobreviveu de não sentir saudades.

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