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Descrição de chapéu

Remakes, uns ótimos e outros péssimos, expulsam novelas clássicas do streaming

Globoplay tem joias como 'O Rei do Gado' e 'O Rebu', mas engaveta 'Vale Tudo' e 'Roque Santeiro'

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​O amor proibido de Giovanna e Enrico no meio do cafezal —uma loira Letícia Spiller deslocada da zona sul carioca para a lavoura e um Leonardo Brício transpirando a beleza rude dos garotos de Pasolini— dominam as primeiras cenas do clássico “O Rei do Gado”.

Dos dramalhões preservados em âmbar que reluzem na memória afetiva dos noveleiros, a trama de Benedito Ruy Barbosa com direção de Luiz Fernando Carvalho, então longe de todo o barroquismo que marcou seus últimos trabalhos, é a joia mais brilhante do mirrado catálogo de novelas da Globoplay.

Mirrado porque poucas das incontáveis obras de uma das maiores usinas de produção desse gênero, um alento em qualquer quarentena, chegam de fato ao streaming.

Na versão condensada reprisada às tardes na faixa “Vale a Pena Ver de Novo”, “O Rei do Gado” aparece ali no lugar de clássicos ignorados.

Não é possível rever, por exemplo, “Vale Tudo”, nem “Roque Santeiro”, nem “Renascer”, nem o remake de “Mulheres de Areia” que, de tão adorado, acabou ofuscando o original. Em vez disso, está lá uma amostra do mais bobo e raso que o maior canal de TV do país levou ao ar nos últimos anos.

Ruth e Raquel, as gêmeas do bem e do mal de uma Glória Pires inesquecível, estão fora do ar. E melhor nem falar de sua Maria de Fátima às turras com a mãe, a Raquel vivida por Regina Duarte na maior novela de todos os tempos, “Vale Tudo”.

Beatriz Segall como Odete Roitman em 'Vale Tudo' - Globo

Talvez porque Regina esteja no ar em Brasília num momento um tanto menos glorioso, é verdade. Mas sua insossa Helena de “Por Amor”, a milésima trama “white people problems” de Manoel Carlos no Leblon, segue firme no streaming. É uma novela amada, é fato, mas menos pela chorosa protagonista e menos ainda pela insuportável filha, papel porre de uma Gabriela Duarte constrangedora, e mais pela vilã Branca Letícia, a megera das megeras de Susana Vieira.

Mesmo “Guerra dos Sexos”, da fase leve e engraçada de Silvio de Abreu, hoje o chefão das novelas da Globo, aparece ali na encarnação triste de um remake precoce. No lugar de Fernanda Montenegro e Paulo Autran, Irene Ravache e Tony Ramos surgem um tanto deslocados no tempo.

Nem “Rainha da Sucata” e “Deus nos Acuda”, também da era debochada de Abreu, aparecem. Muito menos seu “whodunit” mais famoso, “A Próxima Vítima”, e “Torre de Babel”, obra mais mambembe na mesma linha de suspense.

No lugar, há uma série de remakes dispensáveis —“O Astro”, “Saramandaia” e “Ti Ti Ti”.

Uma exceção é “O Rebu”, refeita em forma de minissérie com uma plasticidade exuberante. A fotografia noir, azulada de Walter Carvalho, a direção cirúrgica de José Luiz Villamarim, as atuações afiadíssimas de Patrícia Pillar, Cássia Kis Magro, Camila Morgado, Vera Holtz, Sophie Charlotte, enfim, todo um elenco sedutor.

Villamarim, hoje sem dúvida o melhor diretor da TV brasileira, que viu “Amor de Mãe”, sua primeira trama do horário das nove como diretor artístico no comando solo ser suspensa pela pandemia do coronavírus, ainda pode ser visto na Globoplay com “Onde Nascem os Fortes”. Mas “Justiça”, sensacional em todos os sentidos, sumiu do catálogo.

Também houve certa injustiça da plataforma com alguns dos autores mais brilhantes da Globo. Aguinaldo Silva, recém-demitido do canal, tem ali a pavorosa “Fina Estampa”, agora no ar também no horário nobre da TV aberta por causa da paralisação das gravações de tramas inéditas, e a bomba “O Sétimo Guardião”.

É certo que alguns fãs gostam de “Senhora do Destino”, disponível ali e anterior à fase de declínio acentuado do roteirista. Mas “Tieta”, “Pedra sobre Pedra”, “Fera Ferida” e “A Indomada”, todas do auge do realismo fantástico na TV do país, foram engavetadas.

Enquanto esperamos o fim da quarentena para saber o que será de Lurdes em “Amor de Mãe”, nos resta rever a briga dos Mezenga e dos Berdinazi em “O Rei do Gado” ou, quem sabe, voltar a ver de novo os surtos de Carminha em “Avenida Brasil”, que acaba de sair do ar no “Vale a Pena Ver de Novo”, mas pelo menos continua rodando na Globoplay.

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