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Cinema

'DNA', com Louis Garrel e Fanny Ardant, discute o luto e a ancestralidade

Filme de Maïwenn poderia ser uma narrativa atrevida, mas se perde entre ansiedades e dores das personagens

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DNA

Avaliação: Regular
  • Classificação: 14 anos
  • Elenco: Fanny Ardant, Louis Garrel, Marine Vacth
  • Produção: França, 2020
  • Direção: Maïwenn

Para quem não é muito acostumado, filme francês com frequência é meio que nem tomar bonde andando. O longa “DNA” funciona assim, com os minutos e minutos dedicados, ninguém sabe bem por que, à visita dos familiares a Emir, pai e avô, agora com Alzheimer e recolhido a um asilo. Repassam sua história, lembram episódios de sua vida; o velhinho sorri todo o tempo sem entender nada ou quase do que dizem.

O velho patriarca, entendamos, é quem une uma família sempre à beira de uma guerra civil, cujos membros são incapazes de se entender sobre as coisas mais elementares. Basta ele morrer e os problemas explodem. Onde fazer a cerimônia? Numa mesquita? Mas como se ele era comunista e ateu? Segue a briga. Vamos dizer alguma coisa sobre o finado durante a cerimônia? Uma irmã começa a falar, outra a empurra violentamente e toma a palavra. Um ressentimento a mais se cria.

Entre uma discussão e outra ficamos sabendo que o avô, o patriarca e aquele que unia essa família tóxica era um argelino, comunista e combateu pela independência da Argélia. Desde 1965, no entanto, ele se exilou na França. O filme não explica o motivo. Talvez fosse partidário de Ben Bella, o presidente deposto naquele ano. Isso não é explicado, mas faz parte do cinema francês. Ninguém espere ter tudo mastigado, siga o curso das coisas que elas vão se esclarecendo, ou não, mas siga. Outro problema logo vai aparecer e deixar suas dúvidas para trás.

A dúvida seguinte não é bem uma dúvida, mas uma estranheza. Esse filme que começou em torno da família a abandona antes mesmo de o espectador descobrir quem é quem em tudo isso, afinal, e se centra sobre Neige, a filha aparentemente mais apegada a Emir e, por extensão, à herança árabe.

A partir de então, o filme pertence a essa irmã, Neige, interpretada pela atriz-diretora Maïwenn, que tem a seu lado, como apoio, o ex-marido François, papel de Louis Garrel. Descobrimos então que o mal da família, motivo de tantos desajustes, talvez seja o de desconhecer as origens. Pois se o patriarca era argelino, todos agora são orgulhosamente franceses.

Salvo Neige, que não se sente tão bem assim. Ou, por outro lado, se sente tão mal que decide fazer um teste de DNA. Este revela que ela é 30% espanhola, 7% vietnamita... Esse é talvez o melhor momento do filme, aquele onde algo se costura –a França eterna, de que falava De Gaulle (que por sinal não era nada racista) talvez seja uma ficção como qualquer outra. E mais –uma ficção colonial. Esse ponto interessante é, infelizmente, deixado de lado por Neige, obcecada por buscar suas origens árabes –ou seja, as origens de Emir Fellah, seu pai.

Eis o problema do filme –não se trata de uma narrativa arrojada, mas um tanto perdida entre os sentimentos, ansiedades e dores das personagens. Parte do velho Emir, passa pelo amor de todos por ele, salta daí aos ressentimentos familiares, de repente toda a questão coletiva se concentra em Neige, suas dores e sua obsessão pela nacionalidade argelina e pela origem árabe, a única à qual se apega, como se fosse uma dívida em relação a Emir, o pai.

E assim vai “DNA”, pulando de galho em galho. O que poderia ser uma narrativa atrevida é, antes, uma adição de partes que não chega nunca a formar um conjunto e a quem salva, afinal, as turisticamente belas paisagens de Argel que se pode ver ao final. É pouco.

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