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Semelhanças entre os fungos e a internet inspiram debates do quarto dia de Flip

Giselle Beiguelman e K. Allado-McDowell discutiram inteligência artificial, enquanto outra mesa focou os micélios

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Nathan Fernandes
Ubatuba (SP)

As tecnologias guiaram os debates do quarto dia de Flip, nesta terça. Borrando as fronteiras entre o biológico e o digital, a criatividade das máquinas e dos fungos foram o destaque da noite.

Na mesa "Tecnobotânicas", Giselle Beiguelman e K. Allado-McDowell discutiram uma nova concepção da linguagem pelo uso de ferramentas como a inteligência artificial.

A professora e artista visual Giselle Beiguelman, que participou da Flip nesta terça - Adriano Vizoni/Folhapress

Como pessoa não binária, McDowell transcende não só a compreensão de gênero, mas também o que entendemos sobre o analógico e o digital. Seu livro "Pharmako AI", ainda inédito no Brasil, foi
escrito em parceria com a inteligência artificial GPT-3, resquício de seu trabalho em um programa do Google.

"É possível dizer que nossa relação com a tecnologia tem sido muito ingênua, no sentido de que aceitamos seus referenciais sem questionar", argumenta. Seria preciso então inventar referenciais que não sejam padronizados, ou seja, que não reforcem a exclusão.

"Se a tecnologia muda você de uma maneira exploratória, ela é um veneno. Mas, se transforma você de modo a expandir sua consciência, é cura. A maneira como criamos as ferramentas determina como elas vão nos afetar."

Professora da Universidade de São Paulo, Beiguelman é pioneira no uso da internet em intervenções artísticas. Em seu mais recente livro, "Políticas da Imagem", da Ubu, ela discute o estatuto da imagem no mundo contemporâneo.

Já no projeto "Botannica Tirannica", sua atenção se volta ao reino vegetal, ao catalogar preconceitos como o racismo e a misoginia nos nomes dados a espécies de plantas.

Para ela, a tecnologia não pode ser vista como algo antagônico à natureza. "O antropoceno nos mostrou que essa hipótese do humano como um ser superior está equivocada. Não existe a possibilidade de termos a natureza e a cultura como esferas separadas", diz. "Não é a tecnologia que corrompe a natureza em si, mas, sim, uma determinada concepção de tecnologia."

A ideia de que tudo está conectado também aparece quando falamos dos fungos. Através de redes subterrâneas, eles podem transportar nutrientes e informações entre as plantas, formando o que se convencionou chamar de "internet das árvores".

Biólogo Merlin Sheldrake, autor do livro "A Trama da Vida: Como os Fungos Constroem o Mundo" - Hanna-Katrina Jedrosz/Divulgação

O debate entre o biólogo britânico Merlin Sheldrake e o pesquisador paratiense Jorge Ferreira se deu em torno dos micélios, filamentos que dão sustentação aos fungos.

Para Ferreira, esses organismos podem ensinar lições importantes. "Quanto mais os micélios se espalham, mais transformações surgem na natureza. Os humanos deveriam copiar essa inteligência."
Para Sheldrake, que acaba de lançar seu livro de estreia no Brasil, "A Trama da Vida", coedição entre Fósforo e Ubu, essa visão mais individualista é resultado de fatores históricos como o iluminismo.

"Esses eventos nos nos levaram a enxergar o mundo em partes. As descobertas fúngicas nos guiam a um quadro interconectado holístico, que já existia há muito tempo entre os seres humanos."

A literatura surge então, segundo ele, como uma ferramenta para esgarçar essas percepções. "Metáforas, analogias e poesia são fundamentais para engajarmos nossos sentidos na busca pela compreensão desses organismos."

As mesas da programação da Flip, que se estendem até domingo, dia 5, podem ser vistas gratuitamente pelo canal do YouTube da festa literária.

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