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Série 'A Vida Mentirosa dos Adultos' é mediana como livro de Ferrante

Produção baseada no livro homônimo se perde em um limbo, como a própria protagonista, que vive a adolescência

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Fabiane Secches

Psicanalista, crítica literária e pesquisadora de literatura na USP

A Vida Mentirosa dos Adultos

Avaliação: Bom
  • Onde: Disponível na Netflix
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Giordana Marengo, Valeria Golino e Alessandro Preziosi
  • Produção: Itália, 2022
  • Direção: Edoardo De Angelis

Quando uma adaptação de uma obra literária é anunciada, em especial se é uma obra querida, há quem comemore e aguarde com expectativa, e há quem sinta mais receio do que curiosidade, como se a adaptação pudesse honrá-la ou traí-la.

No caso de "A Vida Mentirosa dos Adultos", minissérie original da Netflix de seis episódios, dirigida por Edoardo De Angelis e inspirada no romance homônimo de Elena Ferrante, essa equação pode ficar um pouco mais complicada, uma vez que Ferrante também está creditada no grupo de roteiristas.

Valeria Golino e Giordana Marengo em cena da série 'A Vida Mentirosa dos Adultos', baseada no romance de Elena Ferrante - Eduardo Castaldo/Netflix

Ainda assim, estamos diante de duas obras autônomas, que devem ser apreciadas como tais. Ambas contam a história de Giovanna, na minissérie vivida por Giordana Marengo, que está muito bem em sua estreia como atriz.

No livro, acompanhamos sua jornada durante um período específico: a adolescência. A história se desenrola nos anos 1990, em Nápoles. Começa quando a protagonista está às vésperas de completar 13 anos e a acompanha até os 16. É, portanto, um romance de formação, embora desafie características clássicas do gênero, como a questão da ascensão social. É na descida ao "inferno" —a parte baixa e pobre de Nápoles— que Giovanna tem seu aprendizado.

Marengo é e parece um pouco mais velha do que a personagem do livro, embora seja talentosa ao representar as angústias que acompanham alguém que está no limbo entre a infância e a vida adulta. Interpretar uma garota silenciosa e introspectiva, mas assertiva e questionadora, buscando a medida para transmitir uma ampla gama de emoções sem recorrer a clichês, pode ser uma tarefa desafiadora.

Outro desafio foi o de contracenar com a experiente atriz Valeria Golino, que nem sempre acerta. No entanto, a controversa tia Vittoria —irmã de Andrea, pai de Giovanna—, parece ter sido feita sob medida para ela, que não poderia estar melhor.

O desempenho de parte do elenco talvez seja o ponto forte da minissérie, ao lado do retrato nada lisonjeiro da cidade. Com o Vesúvio ao fundo —símbolo ambíguo, como quase tudo em Ferrante—, não é a Nápoles paradisíaca que ocupa as telas, ao contrário.

Giovanna cresce numa região alta e mais abastada, filha de pais intelectuais, de esquerda, numa família de classe média, cercada de afeto e conforto. Ao entreouvir uma conversa da mãe e do pai, quando falam sobre o boletim desastroso da garota, Andrea faz um comentário que desencadeia uma série de acontecimentos que mudam radicalmente o rumo da vida de todos —diz que Giovanna está começando a se parecer com Vittoria, a irmã pela qual tem tanto despeito.

Para Giovanna, a comparação é um insulto tanto doloroso quanto instigante. A partir de então, ela se empenha em conhecer melhor a tia, primeiro em fotografias antigas, depois indo até a sua casa.

De origem pobre, Andrea ascendeu socialmente pela educação, enquanto Vittoria permanece no lugar em que nasceram, personificando a classe de origem de ambos. A partir dessa perspectiva, Giovanna começa a ver o pai e a vida sob novos ângulos. A iniciação ao mundo dos adultos também é uma iniciação ao rito das mentiras.

Esse não é o melhor romance de Ferrante, mas mesmo suas obras mais fracas estão acima da média da literatura contemporânea. A série também não é a sua melhor adaptação —o filme "A Filha Perdida", de Maggie Gyllenhaal, também da Netflix, talvez mereça esse posto, seguida pela adaptação da tetralogia napolitana de Saverio Costanzo.

"A Vida Mentirosa dos Adultos", como romance, tem passagens ricas e bonitas, e outras mais arrastadas, sem brilho algum. Podemos dizer o mesmo da minissérie, que é bastante irregular: há momentos quase impecáveis e outros tantos confusos e erráticos.

Não é sua opacidade o que incomoda —essa, aliás, é uma das características mais interessantes das obras de Ferrante. É o tratamento dado ao material. Não deve agradar a espectadores médios da plataforma e talvez nem mesmo a leitores entusiasmados de Ferrante. Fica no limbo, como Giovanna.

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