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Quem é Fernando Jaeger, designer que une popular e luxuoso em móveis duráveis

Livro resgata os 40 anos de trajetória do designer gaúcho que caiu no gosto das classes médias paulistana e carioca

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São Paulo

Designer conhecido por seus móveis que unem o desenho industrial com o artesanato, Fernando Jaeger acaba de completar 40 anos de carreira com o lançamento de um livro sobre sua trajetória.

"Fernando Jaeger: Quatro Décadas de Design" recupera, em mais de 350 páginas, quatro textos críticos e dezenas de fotos de produtos, o histórico desse gaúcho que caiu no gosto das classes médias paulistana e carioca pelo cuidado no desenho das peças e preço relativamente acessível.

Ambiente com móveis de Fernando Jaeger - Felipe Jaeger/Divulgação

Junto a nomes como Jaqueline Terpins, Carlos Motta e os irmãos Campana, Jaeger ajudou a dar a cara do móvel contemporâneo brasileiro, ao pôr nas casas de seus clientes móveis produzidos em série mas com clara preocupação estética.

São mesas, cadeiras, camas, bancos e aparadores de desenho limpo, com pouco ou nenhum ornamento, valorizando assim os materiais de que são feitos, e almofadas e tapetes que resgatam o trabalho feito à mão por tecelões de comunidades no interior do Brasil.

Com peças a meio caminho entre o popular e o luxuoso, sua clientela está interessada em design, mas não necessariamente disposta a gastar dezenas de milhares de reais numa poltrona de Sergio Rodrigues ou num carrinho de chá de Jorge Zalszupin, para lembrar dois nomes do mobiliário moderno que influenciaram Jaeger —as cadeiras de sua marca variam de R$ 650 a R$ 3.540, por exemplo.

A preocupação em ser acessível vem de sua formação superior, quando cursou desenho industrial na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no final dos anos 1970. "A gente tinha uma visão mais social, os professores estimulavam muito para a gente desenhar equipamentos públicos urbanos", ele conta, em entrevista por vídeo.

Junto com outros três colegas, Jaeger ganhou um concurso universitário para o desenho de torres de observação de salva-vidas a serem instaladas nas areias da orla carioca, mas o projeto nunca saiu do papel. Nessa mesma época, ele se aventurou pelo design gráfico, ao criar o logotipo da Fundação Universitária José Bonifácio, filiada à UFRJ, usado pela instituição até hoje.

A guinada para o setor moveleiro veio no início dos anos 1980, quando, recém-formado, foi contratado pela empresa Phenix para desenhar uma linha de móveis tubulares. Era uma época em que o design de mobiliário no Brasil "tinha zero importância" e o mercado de trabalho era quase inexistente, diz Yáskara Jaeger, sua companheira de vida e de trabalho.

Durante a ditadura, acrescenta ela, o país era muito fechado e se tinha pouco contato com as tendências de design do exterior. "Eram anos difíceis, de repressão, não tinha incentivo. Nem se falava em design."

Com o fim dos anos de chumbo e a abertura comercial, surgiram lojas de design contemporâneo, mudando o panorama da decoração por aqui —até então, predominavam móveis de estilo colonial ou "poltronas Luís 15, Luís 14, móveis da época do Império", diz Jaeger. Segundo ele, o comércio ascendente foi beneficiado por uma indústria moveleira que dispunha de maquinário adequado à produção seriada.

Jaeger credita à Phenix seu aprendizado da parte industrial do design, e à Tok&Stok o conhecimento de como funciona a venda para o consumidor. Como freelancer, desenhou durante anos dezenas de produtos de forma anônima para a empresa, antes de lançar sua marca própria. A cama Patente, projetada por ele com base na cama em que dormia quando era criança, está em linha na varejista até hoje.

O designer de móveis Fernando Jaeger, em 2022 - Victor Affaro/Divulgação

Nos anos 1990, passou a investir em showrooms próprios, em São Paulo, para comercializar sua produção. A clientela aumentou a partir de uma reportagem que o apresentava como destaque da nova geração de designers paulistas.

Anos mais tarde, desenhou uma peça que deu a ele mais projeção e virou um dos clássicos de sua marca —o banco Bienal, com pernas curvadas de aço pintado de preto e assento revestido de tecido em diversas tonalidades, feito sob encomenda para o bar dos 50 anos da Bienal de São Paulo.

Uma das assinaturas do designer é o uso de diversos tipos de madeira, que emprega tanto em sua linha comercial quanto na feita sob medida. Como afirma Marili Brandão no livro, o material é sustentável, familiar ao consumidor e durável. A cadeira Ox, de 1991, foi o primeiro móvel brasileiro de eucalipto a ser produzido em série, o que rendeu a Jaeger um prêmio pelo uso de madeira alternativa.

Yáskara Jaeger, companheira e sócia de Fernando, responsável pela direção criativa da marca - Victor Affaro/Divulgação

"A gente se recusa a fazer o descartável, a obsolescência programada, projetar um móvel para durar pouco", afirma Jaeger, acrescentando que sua marca não dispõe de uma marcenaria própria, como muitos outros designers.

Outra peculiaridade de seu trabalho é o uso das cores, como se pode ver em suas lojas em São Paulo e no Rio de Janeiro, ambientadas por Yáskara como se fossem uma casa. Numa simulação de sala de estar, por exemplo, um sofá em tom de telha com a cara do conforto combina com um tapete de sisal cinza escuro.

Jaeger não gosta de dizer que "vende móveis", mas sim "sensações, estilo de vida, um jeito de morar mais casual".

Fernando Jaeger - Quatro Décadas de Design

Avaliação:
  • Preço: R$ 290 (368 págs.)
  • Editora: Monolito
  • Textos: Fernando Serapião, Maria Cecilia Loschiavo, Marili Brandão e Frederico Duarte

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