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Leonardo Padura faz seu 'Apanhador no Campo de Centeio' em sua estreia

Romance de formação, escrito em 1982, aborda temas universais pincelando como era crescer no comunismo cubano

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Febre de Cavalos

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 47 (128 págs.)
  • Autoria: Leonardo Padura
  • Editora: Boitempo
  • Tradução: Monica Stahel

O romance "Febre de Cavalos", do cubano Leonardo Padura, é uma obra anacrônica para o leitor brasileiro. Não porque não esteja em sintonia com o espírito do tempo, mas porque é publicada na ordem cronológica inversa. Escrita em 1982, a narrativa é a primeira obra de ficção de Padura, mas também seu último título lançado no Brasil.

O escritor cubano Leonardo Padura em Havana, cidade onde mora - Adalberto Roque/AFP

Quatro décadas após ter sido escrito, "Febre de Cavalos" ainda corresponde ao zeitgeist ao abordar um tema universal e atemporal —o amadurecimento de Andrés, um jovem de 17 anos que vive em Havana na década de 1980 e pretende estudar medicina. Usando outro termo alemão certeiro, é um bildungsroman —um romance de formação.

Uma das referências de Padura é, justamente, "O Apanhador no Campo de Centeio", do americano J.D. Salinger, um dos romances de formação mais célebres da literatura. Até mesmo a capa icônica do clássico, com um cavalo vermelho —em razão da cena final do carrossel— lembra a de "Febre de Cavalos" na edição brasileira. Além disso, o paralelo entre a noitada de Andrés por Havana e a aventura de Holden por Nova York é evidente.

Se alguns temas são universais, como se apaixonar, outros são específicos de Cuba. O protagonista fica afastado do estudo e fora de casa por mais de 40 dias, e o motivo não são as férias. Com todos os seus colegas do chamado "pré-universitário", o estudante participa do programa Escuela al Campo, em que os jovens são enviados pelo governo para fazendas onde colhem e plantam, a parte prática do ensino da ideologia comunista.

Embora a convivência diária de adolescentes nas condições precárias de albergues campesinos pudesse render uma boa trama, o romance se concentra no retorno de Andrés após a experiência do trabalho braçal. É na cidade, não no campo, que o garoto se apaixona por Cristina, uma vizinha mais velha que ele. Não tão mais velha, mas o suficiente para que a mãe do rapaz, Consuelo, reprovasse até mesmo a amizade entre os dois.

O fascínio que uma mulher mais velha pode causar em um rapaz que está iniciando sua vida afetiva remete ao excelente "A Única História", do britânico Julian Barnes, em que um universitário ingressa em um clube de tênis por sugestão dos seus pais e, em um torneio de duplas, acaba formando par com Susan, uma mulher casada —e mais velha— por quem se apaixona.

Em "Febre de Cavalos", o magnetismo que Cristina exerce sobre Andrés incomoda Consuelo, a mãe, uma mulher que pode ser um tanto sufocante. O incômodo que Consuelo passa a causar no filho lembra Caridad, uma figura materna tirânica de outra obra de Padura, "O Homem que Amava os Cachorros" —o romance histórico que já vendeu mais de 90 mil cópias no país.

Cristina desenha paisagens estranhas que misturam pessoas nuas sobre cavalos tristes, anjos de asas quebradas e borboletas. A voz que Padura criou para ela deixa transparecer em diversos momentos que a mulher é neurodivergente.

A personagem têm muito em comum com Yula, a protagonista do imperdível "As Primas", da argentina Aurora Venturini. Assim como Cristina, Yula expressa seus sentimentos por meio de pinturas excêntricas e também possui um desenvolvimento cognitivo atípico.

Padura reconhece, em um texto que acompanha a edição, que só muito depois percebeu as semelhanças entre Andrés e Mario Conde, o detetive que protagoniza diversos dos seus romances. "Deixo-os entrar agora num mundo cujas primeiras coordenadas foram traçadas neste 'Febre de Cavalos', cujas ingenuidades e virtudes assumo com a certeza de que aqui dei o primeiro passo da viagem mais longa, a que me trouxe até onde estou, diante de vocês."

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