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Sidney Molina

Celebração aos 150 anos de Arnold Schoenberg é tímida e pouco criativa

Obra do compositor fundamental do século 20 será contemplada em São Paulo com apresentações de 'Pierrot Lunaire'

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Sidney Molina

É violonista, professor e crítico musical​​. Autor dos livros "Mahler em Schoenberg" e "Música Clássica Brasileira Hoje" e fundador do quarteto de violões Quaternaglia

São Paulo

Nascido em Viena há 150 anos, Arnold Schoenberg (1874-1951) figura por consenso em todas as listas de compositores fundamentais do século 20. Sua música, entretanto, segue sendo pouco tocada e ouvida.

Conhecido por ir além das fronteiras da tonalidade —o sistema musical que surgiu no século 17 e que ainda reina soberano na música que escutamos hoje, seja ela clássica ou popular—, ele talvez seja, dentre os grandes compositores, um dos que mais amedronta os ouvintes.

'Autorretrato Azul', de Arnold Schönberg, de 1910 - Johansen Krause/Arnold Schönberg Center/Divulgação

Não é simples explicar por que isso ocorre: afinal, Schoenberg foi um modernista que viveu no mesmo mundo de artistas inovadores hoje totalmente aclimatados na cena mundial, como Kandinsky (de quem foi amigo), Proust, Klee, Picasso, Joyce e Kafka.

A obra do jovem Schoenberg concilia brilhantemente os dilemas de Johannes Brahms e Richard Wagner, tidos por antípodas no alto romantismo. Um exemplo é "Noite Transfigurada" para sexteto de cordas, escrita aos 25 anos.

A partir da "Sinfonia de câmara nº 1" (1906), ainda nos limites da tonalidade, adquire uma voz poética forte, admirada por Gustav Mahler e Richard Strauss. Ele passa a recusar a grandiosidade romântica —que chegou a exercitar— e passa a buscar a concisão comprimida de obras em que todos os movimentos se entrelaçam num só.

O compositor Arnold Schönberg, em Praga, 1924 - Atelier Schlosser & Wenisch/Arnold Schönberg Center/Divulgação

Entre 1909 e 1913 ele produz obras livremente atonais, a saber, cuja disposição de notas e acordes já não encontra explicação pelo sistema fundado nos modos maior e menor. É a sua fase expressionista, que chega ao cume com "Pierrot Lunaire", ciclo de canções em que a voz atua num registro de canto falado ("Sprechgesang").

Após vivenciar uma crise criativa —e a Primeira Guerra Mundial— o compositor resolve o impasse técnico ao conceber, beirando os 50 anos, um sistema que o permitiu atingir a sonoridade que almejava.

Ele passou a criar séries que incluíam todas as 12 alturas disponíveis —as teclas brancas e pretas de um teclado, no espaço de uma oitava—, as quais dispunha em certa ordem, e a partir da manipulação dessa série, chamada dodecafônica (de 12 sons), construía melodias, acordes e frases sonoras. O som resultante não é mais inusitado do que o já praticado por ele e seus alunos nos anos anteriores.

Obras vocais, corais, orquestrais, música de câmara e óperas serão escritas nesse sistema, mas isso não é o mais importante. O que conta é a especificidade de cada obra, sua complexidade vital, as ideias e emoções que provoca, seu acabamento artesanal, enfim, a capacidade de dialogar consigo mesma e com o em torno.

No Brasil as homenagens ao artista têm sido pontuais e tímidas. A Osesp fez em abril o poema sinfônico "Pelléas e Mélisande" e a Filarmônica de Minas Gerais toca "Noite Transfigurada" em novembro.

Somente o Theatro São Pedro teve coragem de programar uma obra atonal: neste final de semana, apresenta "Pierrot Lunaire", tendo Laiana Oliveira como cantora solista e coreografia especialmente concebida por Anselmo Zolla.

Se a Filarmônica de Nova York não foi muito além das orquestras brasileiras, Berlim e Viena prepararam homenagens sólidas, e com continuidade ao longo do ano. Os grandiosos "Gurrelieder" —também programados nesta semana pelo teatro Colón, de Buenos Aires— serão apresentados no Musikverein de Viena, mesmo local em que a obra estreou em 1913. Em sua cidade natal, que também abriga o Arnold Schoenberg Center, foi igualmente agendado um ciclo integral de seus quartetos de cordas.

Em Berlim, onde ele morou e trabalhou em três diferentes períodos, a programação é criativa, e propõe diálogos de sua obra com a de precursores (como Brahms) e sucessores (o contemporâneo John Adams), com performances de obras emblemáticas lideradas pela violinista Isabelle Faust.

Londres e Amsterdã também escaparam do marasmo: no Concertegebouw holandês um tríptico schoenberguiano incluiu o espetacular monodrama "Erwartung" (espera); e um belo programa da London Sinfonietta traz a "Sinfonia de Câmara nº 1" e as "Peças para Piano" opus 19 convivendo com obras dodecafônicas.

Retrato do compositor Arnold Schönberg, em Los Angeles, 1940 - Arnold Schönberg Center/Divulgação

Com a ascensão do nazismo, em 1933, ele foi obrigado a se demitir da Academia de Artes de Berlim, onde trabalhava, e, com quase 60 anos, emigra para os Estados Unidos, não sem antes, em gesto simbólico, reconverter-se à fé judaica.

Com esposa e filhos pequenos, o músico foi acolhido pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, onde trabalhou até se aposentar.

Sensível a um mundo em frangalhos, fiel a princípios que o mobilizaram por toda a vida, Schoenberg produziu uma música que, para além da superfície, reserva belezas e surpresas. Urge praticá-la e escutá-la.

Pierrot Lunaire

Avaliação:
  • Quando: Sáb. (14) às 20h; dom. (15) às 17h
  • Onde: Theatro São Pedro - r. Barra Funda, 171, São Paulo
  • Preço: R$ 35 a R$ 70

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