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Marcos Augusto Gonçalves

Futebol triunfa, bate novo complexo de vira-lata e recupera equilíbrio com a prancheta

O futebol é literatura, e os heróis desse poema são os Puskás, os Pelés, os Garrinchas, os Zidanes, os Romários e, claro, o Messi

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Marcos Augusto Gonçalves

Jornalista, editor da Ilustríssima e autor do livro ‘1922 - a Semana que Não Terminou’ (Companhia das Letras), sobre o evento modernista


No final das contas ganhou o futebol.

A quebra da hegemonia europeia em Copas por uma seleção com alma, destemor, marinheiros de primeira viagem e um supercraque traz reflexões sobre o fetiche "tecnocoaching" triunfante no Brasil pós-7x1 como uma espécie de reação da ciência e do planejamento sobre o subdesenvolvimento mental ingênuo nativo. Por um lado bem-vinda, veio a restaurar o complexo de vira-lata de outros tempos, em versão 2.0.

Lionel Messi levanta o troféu da Copa do Mundo e celebra com companheiros de time o tricampeonato da Argentina na competição - Kirill Kudryavtsev/AFP

Sim, a Argentina teve técnico, e muito bom, mas sem a gosma provinciana de Tite, o rei das eliminatórias sul-americanas por pontos corridos, com seus processos, ciclos, compadrios e inseguranças mal-disfarçadas sob aplausos midiáticos.

A final desta Copa, a maior de todos os tempos, fez lembrar, em outra escala, a vitória do Real Madrid na Champions. Entrou em campo o futebol com sua magia.

Pode parecer resistência à adesão a uma estratégia de racionalidade que deseja ter posse de bola para cozinhar o descontrole atávico do futebol.

Tática, estratégia, performance atlética sempre estiveram presentes neste jogo. A ideia de que em outros tempos tudo se passava como uma pelada de gala em que cada um se virava de acordo com a intuição e o talento individual é um grande equívoco.

Natural que os processos tenham evoluído, mas um efeito colateral foi aquela dosezinha de arrogância conceitual e moral da prancheta sobre o campo e as qualidades humanas da performance —da espécie mesmo, diria, quando atua ancestralmente em grupo para vencer os embates vitais.

O avanço tático no palco europeu, o grande palco do mundo, foi indiscutivelmente marcante. Pep Guardiola é o bruxo desse reino.

Não é preciso falar de sua importância —e há muitos outros. Mas evocando o santista José Miguel Wisnik, talvez esse guardiolismo já meio pós ele mesmo tenha passado de remédio a veneno. O posicional, a robotização, a prevalência do banco sobre o gramado acabaram se exacerbando e ganhando o estatuto de indiscutível estado da arte. O resto, como se dizia, seria literatura.

O futebol, contudo, é literatura. E não só de mestres e diluidores, mas de inventores (pobre Ezra Pound, diria meu amigo Fred Coelho). E os heróis desse poema são os Puskás, os Pelés, os Garrinchas, os Zidanes, os Romários e, claro, o Messi.

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