Em meio à Copa do Mundo do Qatar, o debate desta quarta (23) do ciclo Perguntas sobre o Brasil levanta a questão: o futebol ainda explica quem somos nós?
Com transmissão online às 16h, o sexto evento da série reúne José Miguel Wisnik, professor do departamento de literatura brasileira da USP e autor de "Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil", e a consultora especializada em esporte Aira Bonfim, mestre em história, políticas e bens culturais pela Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro.
A mediação fica a cargo de Elder Marques, gestor esportivo do Sesc Itaquera, com apresentação de Patrícia Dini, do Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, instituição que organiza a iniciativa ao lado da Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e da Folha.
"Eu não diria que o futebol 'explica' o Brasil, mas que dá pistas fortes sobre a sociabilidade brasileira, suas potências e seus impasses", afirma Wisnik.
"Não é mais a utopia da conciliação de classes e raças, como já foi. Mas continua, na minha opinião, a funcionar segundo a síndrome do 'veneno remédio', droga ambivalente que expõe nossos males, por um lado, e na qual somos viciados com paixão."
Em "Veneno Remédio", Wisnik reúne contribuições da filosofia, da sociologia e da psicanálise para destacar a evolução do esporte e de seus craques no país.
Para o autor, "o futebol criou um campo de possibilidades, no Brasil, para a expressão da vida como promessa de felicidade e de competência lúdica. Ao mesmo tempo, atua muitas vezes como um substitutivo imaginário para o enfrentamento de problemas sempre adiados."
"O futebol explica quem somos nós, brasileiros, tanto nos problemas e dificuldades, mas também nas nossas soluções", diz Aira. "Não dá para pensar a história de um país tão complexo como o Brasil e não considerar o futebol".
A Copa, como se sabe, acontece em meio à forte polarização da sociedade brasileira, como se viu nas eleições deste ano. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) busca despolitizar a camisa da seleção, identificada com o bolsonarismo, mas muitos se questionam se há mesmo clima para união em torno da competição de seleções.
Para Wisnik, a palavra "reconciliação" não dá conta da questão. "A hora é de fazer valer o fato de que esse valor simbólico não pode ser apropriado por ninguém. E que se trata de desativar o ódio delirante ao outro. Esperemos que a Copa contribua de algum modo para isso", afirma.
Aira prefere usar o termo "negociações". "De alguma maneira, há oportunidades de conversar sobre os problemas que envolvem um evento dessa natureza e grandeza", diz.
"Imagino que nós tenhamos nessa 'reconciliação' não um lugar onde todos vão se relacionar da mesma forma, mas onde iremos cada vez mais acolher pensamentos plurais do que a gente entende como futuro e humanidade, a partir do futebol", afirma a consultora.
O ciclo Perguntas sobre o Brasil se inspira no projeto 200 anos, 200 livros, lançada em meio ao bicentenário da Independência para discutir aspectos da formação do país e da identidade brasileira.
O debate será transmitido pelos canais do Sesc São Paulo, do Diário de Coimbra e da APBRA no Youtube.
O ciclo segue até maio de 2023, sempre com um intervalo de duas semanas entre uma mesa e outra. Veja aqui a programação completa e conheça os próximos temas.
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