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Estamos vivendo o fim dos coquetéis de confraternização nos bancos e empresas?

Propostas de pseudodiversão online têm se mostrado uma verdadeira decepção

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Katie Martin
Financial Times

Assim como a maioria dos jornalistas, tenho um relacionamento de amor e ódio com os eventos corporativos.

Nesta época do ano, minha agenda costuma estar repleta de coquetéis de verão, geralmente champanhe e salgadinhos em áreas de recepção vistosas de bancos ou em visitas particulares a galerias de arte.

O negócio funciona da seguinte forma: os anfitriões oferecem aperitivos saborosos e bebida, você conversa com banqueiros e investidores, e o pessoal de relações-públicas fica espiando nervoso sobre seu ombro para ouvir se alguém acidentalmente diz algo interessante, sempre prontos para entrar em cena com um lembrete de que os resultados da noite são estritamente sigilosos.

Os executivos fingem que nunca a encontraram, quando na verdade eles lhe passam dicas há anos. Os promotores ficam sóbrios a noite toda e podem escutar um banqueiro lhe dizendo alguma coisa suculenta a 50 passos.

Os canapés são dos deuses, mesmo não te deixando satisfeito - Divulgação

Vários elementos dessas noites são realmente prazerosos. Muito além da arte, muitos profissionais do mercado financeiro são na verdade simpáticos. Alguns são até divertidos. O bate-papo muitas vezes leva a histórias ou ideias. Você pode se encontrar com outros jornalistas, colegas de empregos anteriores, e fazer uma fofoca às custas de alguém. Além disso, os canapés de luxo são o alimento dos deuses, mesmo que nunca a deixem satisfeita.

Então o que há para não gostar? Seu companheiro está em casa dando comida para as crianças e murmurando que você "saiu de novo". Na verdade, é claro que você está usando um crédito doméstico por "sair" sem estar na folia.

A diversão também pode fazer falta se os banqueiros forem tediosos ou estiverem aterrorizados demais com seus agentes circulando para se envolverem numa conversa normal. A bebida, mesmo com moderação, cai pesado no dia seguinte sobre jornalistas de certa idade. E sob o risco de parecer uma criança ingrata depois de, digamos, os três primeiros coquetéis do verão, você está acabada. Chega.

Mas sinto falta disso. Nos tempos pré-covid, os bons velhos tempos, eu estaria tentando escapar de alguns desses eventos. Entretanto, no lockdown, semi-lockdown ou seja que purgatório habitamos hoje, estou sentindo muita falta deles. Um pouco de conversa fiada com alguns colegas fora do jornal seria uma verdadeira delícia hoje –para não falar na emoção dos canapés.

Os relações-públicas também estão se perguntando como ainda podem confraternizar, virtualmente, é claro, no verão da covid.

Uma sugestão recente: um banco ofereceu para enviar a alguns de nós uma garrafa de vinho para cada e armar uma videoconferência com seus economistas. Sem saber o que fazer a respeito, eu o sugeri à minha equipe. Eles olharam para mim com uma mistura de surpresa e decepção diante da sugestão inventada de pseudodiversão. Quando você não consegue fazer jornalistas aceitarem uma garrafa de bebida, alguma coisa deu errado.

A oferta seguinte caiu igualmente mal. Que tal formarmos um time e entrar numa "sala de fuga" virtual, resolvendo quebra-cabeças juntos em competição com outras equipes? Mais uma vez, foi um esforço real e gentil de alegrar nossas vidas monótonas. Mas de novo a reação foi "melhor não".

A perspectiva de uma noite numa teleconferência com o mesmo grupo de pessoas com quem você já falou naquele dia em pelo menos uma outra teleconferência, fazendo quebra-cabeças por meio de uma chamada de vídeo, é um pouco menos divertido que sentar-se no sofá irritada com sua família e ver televisão de má qualidade.

O que há na diversão organizada online que é tão... sem graça? Minha colega Laura Noonan escreveu recentemente sobre como os grandes bancos de investimentos estão fazendo estágios no lockdown. O elemento social é como pregos num quadro-negro: degustação de vinhos e caça ao tesouro online. Não. Sai fora. Uma apresentação online de atores de um show de sucesso na Broadway. Deus nos acuda. Você tem de cantar junto? Em casa? Bater palmas, talvez? Eu sou a única? Isso é com certeza o inferno e, com todo mundo preso em casa, a única desculpa que você pode dar é: "Obrigada, mas não, obrigada".

O entretenimento corporativo claramente não é a vítima econômica mais vital da pandemia global, a menos que ele seja seu ganha-pão habitual. E a covid-19 pode ser o gatilho para considerar se isso realmente tem algum objetivo útil.

Confraternizar hoje em dia certamente está mais difícil –mas nós sentimos tanta falta de nossas estranhas saídas noturnas a ponto de lhes darmos lugar em nossas agendas quando os minicanapés voltarem?

Tradução do Financial Times por Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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