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Inteligência artificial

Destruição criativa acelerada dá nova perspectiva à renda básica universal

Impacto social de inteligência artificial e robótica exige atualização de políticas públicas para mitigar problemas e, quem sabe, evitar populismo

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Pedro Olinto

Economista sênior do Banco Mundial

O livro "Mortes por Desespero e o Futuro do Capitalismo", de Anne Case e Angus Deaton, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, aborda como a classe média americana foi prejudicada pelos avanços tecnológicos e pela globalização, levando à desilusão, frustração e até impulsos antidemocráticos que culminaram na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Diante da aceleração da inovação em inteligência artificial e robótica, é fundamental atualizar as políticas públicas para enfrentar efetivamente os impactos sociais dessas mudanças e, quem sabe, mitigar tendências populistas e autoritárias.

O economista austríaco Joseph Schumpeter cunhou o termo "destruição criativa" para descrever o processo em que a inovação e o progresso tecnológico geram ciclos de crescimento e disrupção socioeconômica. No livro "A Segunda Era das Máquinas: Trabalho, Progresso e Prosperidade em uma Era de Tecnologias Brilhantes" (2014), Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee argumentam que o ritmo desses Ciclos Schumpeterianos vem acelerando globalmente em todos os setores.

Diante do avanço da automação e das transformações tecnológicas, é relevante repensar a ética do trabalho convencional e refletir sobre os potenciais benefícios de políticas como a renda básica universal (RBU). No livro "Renda Básica: Uma Proposta Radical para uma Sociedade Livre e uma Economia Sã" (2017), Philippe Van Parijs e Yannick Vanderborght exploram o papel da RBU no enfrentamento dos desafios apresentados pela automação e a aceleração dos Ciclos Schumpeterianos. Segundo os autores, a RBU possibilitaria a realização de trabalhos mais gratificantes, eliminando a necessidade de se dedicar a atividades repetitivas e monótonas para garantir a subsistência.

Experiências de RBU ao redor do mundo demonstram sua eficácia. Na Finlândia, houve melhoria no bem-estar e saúde mental dos beneficiários. Em Stockton, Califórnia, ao contrário do que muitos temiam, observou-se maior empregabilidade, além da melhora na saúde mental. Em Ontário, os participantes tiveram maior estabilidade financeira e buscaram mais educação e treinamento profissional. No Quênia, o projeto GiveDirectly resultou em aumento do consumo, investimento em educação e saúde e melhor bem-estar psicológico.

Programas focalizados como o Bolsa Família são mais baratos, mas demandam um processo burocrático para a seleção de beneficiários, o que pode ser contraproducente em um mercado de trabalho cada vez mais volátil e em crises que exigem resposta rápida, como durante a recente pandemia. Em contrapartida, a RBU oferece uma rede de segurança constante que não requer ativação a cada disrupção ou crise econômica aguda. Além disso, a RBU pode se tornar mais focalizada se combinada com um imposto de renda mais progressivo.

A aceleração dos Ciclos Schumpeterianos também tem implicações para as políticas educacionais. É necessário preparar os jovens para um mercado de trabalho em constante evolução. Avanços tecnológicos aumentam o risco de obsolescência do capital humano e geram maior incerteza sobre as perspectivas de carreira. Um estudo da Deloitte projeta que, ao longo dos próximos 15 anos, a demanda por advogados nos Estados Unidos sofrerá uma redução de 10% em decorrência da inteligência artificial.

Para enfrentar esse desafio, é crucial promover a aprendizagem ao longo da vida e o desenvolvimento de habilidades transferíveis, incluindo adaptabilidade, pensamento crítico, criatividade e capacidade de resolução de problemas.

Os Ciclos Schumpeterianos tendem a se acelerar no futuro, tornando-se essencial repensar as políticas de educação e transferência de renda desde já. Fomentando a adaptabilidade, incentivando a aprendizagem contínua ao longo da vida e elaborando políticas de transferências, como a Renda Básica Universal (RBU), é possível construir uma sociedade mais resiliente em um mundo em constante transformação e, talvez, prevenir o fortalecimento de movimentos antidemocráticos.

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