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Descrição de chapéu China

Temu é criticada por vendedores ao mudar modelo de negócios

Varejista busca armazéns fora da China e tenta se prevenir contra "taxa das blusinhas" nos EUA e UE

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Eleanor Olcott Tina Hu
Guangzhou (China) | Financial Times

A varejista chinesa Temu está sendo alvo de uma série de críticas de fornecedores na China que questionam o modelo de negócios da empresa.

Nas últimas semanas, o grupo tentou atrair comerciantes da rival Amazon que possuem mercadorias em armazéns nos EUA e na União Europeia, de acordo com relatos de vários fornecedores abordados pela Temu que falaram ao Financial Times.

A medida seria um ato preventivo da Temu, caso ocorra mudança na legislação de importação de produtos de custo mais baixo (a "taxa das blusinhas", como ficou conhecida no Brasil) e também permitiria à varejista reduzir os tempos de entrega com uma opção de armazenamento em uma localidade mais próxima de consumidores na Europa e EUA. A alteração permitiria ainda vender produtos mais volumosos como móveis e eletrodomésticos.

Marketplace chinês Temu estreia no Brasil com site e aplicativo - Folhapress

Lançada em setembro de 2022, a Temu ganhou destaque copiando o modelo da varejista Shein, vendendo produtos baratos e leves enviados diretamente de armazéns na China para consumidores no Ocidente. O envio é feito pelo correio e aproveita isenções que ocorrem em produtos de valores mais baixos.

A mudança para contratar fornecedores com armazéns no exterior significa que a Temu está passando de um modelo "totalmente gerenciado" para um "semi-gerenciado", no qual um comerciante em seu mercado assume os custos de envio, armazenamento e entrega final, que eram anteriormente gerenciados pela plataforma online.

Falando ao Financial Times, vários fornecedores chineses que estão em Guangzhou duvidam da mudança, que exige que eles assumam mais riscos para vender na plataforma.

"A forma como a Temu está tratando seus fornecedores parece insustentável", disse Hong, um fabricante de leggings no distrito de Haizhu da cidade. "Sinto que isso não pode durar muito tempo."

Outra reclamação comum entre os fornecedores são as táticas da Temu para fazer os comerciantes reduzirem os preços. A empresa oferece o que os fornecedores descrevem como uma maneira "fácil" de mover produtos não vendidos enviando mercadorias para seus armazéns baseados na China.

"É por isso que atraiu tantos vendedores, incluindo aqueles sem experiência em comércio entre diferentes continentes", disse Bing Gongsun, que vende produtos eletrônicos nas principais plataformas de comércio eletrônico.

VENDAS DESPENCARAM

Um comerciante de Guangzhou, que pediu anonimato, disse que recebeu entre 30 mil a 50 mil pedidos por dia durante os primeiros meses de operação da Temu. Hoje, esse número despencou para 3.000, uma queda atribuída ao esforço da empresa para assinar com mais fornecedores em uma tentativa de colocá-los uns contra os outros e reduzirem os preços.

Outros vendedores falaram sobre a imprevisibilidade de prever o volume de negociações na Temu, que pode decidir quais mercadorias são mais promovidas e impulsionadas para os consumidores, dependendo de quem está vendendo os produtos mais baratos ou do tempo que está na plataforma.

Vários comerciantes disseram que pararam de trabalhar com a Temu porque a empresa começou a emitir mais multas por problemas que vão desde embalagens com defeito até reclamações de clientes sobre discrepâncias entre o produto e a descrição online.

"Eles te multam se houver uma reclamação do cliente, mesmo que não seja sua culpa. Se houver um defeito em um item do lote, então eles multam você pelo lote inteiro", relatou um vendedor que preferiu não ser identificado.

Dezenas de fornecedores decidiram buscar uma reparação pessoalmente e invadiram os escritórios da empresa em Guangzhou para protestar contra a prática de aplicar multas. Um fornecedor mostrou à imprensa chinesa evidências de 279 multas emitidas pela plataforma, totalizando 114 milhões de remembis (cerca de US$ 16 milhões ou R$ 90,15 milhões).

Procurada, a Temu informou que os manifestantes "estavam insatisfeitos com a forma como a Temu lidou com questões pós-venda relacionadas à qualidade e conformidade de seus produtos", acrescentando que a empresa estava "trabalhando ativamente com os comerciantes para encontrar uma solução".

Muitos comerciantes disseram que estavam dispostos a trabalhar com a Temu sob o modelo totalmente gerenciado, dado o rápido crescimento dos volumes de vendas. Analistas da Bernstein preveem que este ano a Temu gerará US$ 54 bilhões (R$ 304,24 bilhões) em receita bruta de mercadorias —o valor total dos bens vendidos em sua plataforma—, em comparação com uma estimativa de US$ 17 bilhões (R$ 95,78 bilhões) em 2023.

Mas essas pessoas acrescentaram que as táticas de preços da empresa deixavam em dúvida se valeria mudar para o modelo semi-gerenciado. "Podemos assumir todos esses custos e depois descobrir que nosso produto não vende quando chega aos EUA", disse Bing.

Para superar essa resistência, a Temu está prometendo promover os vendedores dando a seus produtos posições de destaque em sua plataforma caso eles se inscrevam no modelo semi-gerenciado. "A Temu está priorizando dar tráfego de consumidores na plataforma para comerciantes com inventário nos EUA", afirmou Hong.

Ele acrescentou que a Temu estava fornecendo um subsídio de US$ 3 (R$ 16,91) por pedido para vender certas roupas através do sistema semi-gerenciado. Mesmo com os incentivos, Hong disse que o modelo não era favorável para comerciantes menores. "A maioria de nós vendeu na Temu porque a empresa cuidava da logística e dos custos de armazenamento. Muitos de nós não podem arcar com isso", analisou.

A Temu disse que a "reportagem do FT não é representativa da experiência dos vendedores na Temu". "O feedback que recebemos da grande maioria de nossos comerciantes reflete uma experiência positiva, com muitos apreciando a maior exposição e oportunidades de vendas que nossa plataforma proporciona."

PREVENÇÃO CONTRA "TAXA DAS BLUSINHAS"

A mudança em seu modelo de negócios ocorre enquanto se prepara para uma repressão dos EUA e da UE a uma brecha fiscal que isenta compras de baixo valor de impostos de importação.

A Comissão Europeia avalia planos para eliminar a isenção que ocorre em caso de compras abaixo de 150 euros (R$ 914,18). No ano passado, 2,3 bilhões de itens com valor inferior ao limite foram importados para a UE, de acordo com a comissão. Os EUA estudam medida semelhante, mas no país a isenção é dada para compras de até US$ 800 (R$ 4.507).

No Brasil, já foi aprovada a criação de um imposto de 20% para compras de até US$ 50 (R$ 281,71). A medida entra em vigor nesta quinta-feira (1º), mas as varejistas Shopee e AliExpress já anteciparam a cobrança e estão incluindo o tributo desde o último sábado (27).

A busca por armazéns fora da China é uma medida da Temu para tentar concorrer com outros grandes varejistas. Normalmente, a varejista chinesa leva de nove a 12 dias para entregar pacotes da China para consumidores nos EUA, enquanto a Amazon pode oferecer entrega no mesmo dia ou no dia seguinte porque armazena produtos em armazéns nos arredores de grandes cidades.

Alguns dos principais fornecedores chineses da Amazon têm armazéns nos EUA e em outros mercados significativos. Eles estão dispostos a assumir esse custo porque a Amazon é vista como uma plataforma "confiável" para obter lucro, disseram vários comerciantes.

"A Amazon é o principal mercado", disse Hu Jianlong, da consultoria Brands Factory. "A maioria dos vendedores bem-sucedidos depende fortemente da Amazon, o que fomenta uma confiança mais profunda na plataforma. Em contraste, as plataformas emergentes ainda não conquistaram o mesmo nível de confiança."

Em resposta ao desafio crescente da Temu e da Shein, a Amazon tem se defendido. Nos últimos meses, a empresa dos EUA reduziu a comissão que cobra dos fabricantes de roupas de 15% para 8%, enquanto reduzia os custos de entrega e marketing para os comerciantes, de acordo com os fornecedores. A Amazon não respondeu a um pedido de comentário.

No mês passado, a Amazon também começou a recrutar fornecedores chineses para replicar o modelo da Shein e da Temu de enviar mercadorias diretamente da China para o Ocidente, em um esforço para desafiá-los na oferta de preços baixos.

"A Amazon foi lenta para reagir. Mas agora todas as plataformas estão copiando umas às outras", disse Bing. "Há uma piada na indústria de que todos são piratas roubando uns dos outros."

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